come
poesia menina
come poesia
não há mais metafísica
no mundo
do que comer poesia
temos delicados
drops de anis
ou
chocolate de café
para festejar
Leila
Diniz
Artur Gomes Fulinaíma
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vertigem 12
o barro do valão que os pés pisaram impregnou o sangue transpirou nos poros o limo embaixo das unhas lembra-me o lugar de onde vim aquele sertão alado como uma ilha de creta montando alazão enluarado pre-destinado a ser poeta não tracei a linha reta já nasci um anjo torto nada em mim se concreta no meu sonho – desconforto –
Artur Gomes
O Homem com A Flor Na Boca
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quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro ou está por
fora
quem está por fora
não sustenta um olhar que
demora
diante do meu centro
este poema me olha
Ali
se Alice ali se visse
quando Alice viu e não disse
se ali Alice dissesse
quanta palavra veio e não desce
ali bem ali dentro da Alice
só Alice com Alice ali se
parece
Paulo Leminski
mesmo
se eu estivesse nua você nunca saberia quem eu sou muitas vezes diante do espelho essa coisa trans/vestida
com a espada de Ogum Beira Mar eu tenho o sal entranhado em minhas coxas e o
veneno na língua como um poema/pomba que não é da paz um artefato anti/bélico
que pode explodir neste instante em que ela pode muito bem e quer enquanto você
me V(l)ER.
Federika
Lispector
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pérola
dourada
houve um tempo
numa primavera passada
conheci pérola dourada
numa pedra onde o tempo
desta saudade
por toda pele grafia
na minha íris/retina
trouxe a pérola dourada
na menina dos meus olhos
olhando os olhos da menina
em cada pedra que havia
Federico
Baudelaire
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Cântico
dos Cânticos Para Flauta e Violão
oferta:
saibam quantos este meus versos virem
que te amo
do amor maior
que possível for
canção e calendário
sol de montanhas
sol esquivo de montanhas
felicidade
teu nome é
Maria Antonieta D´Alkmin
no fundo do poço
no cimo do monte
no poço sem fundo
na ponte quebrada
no rego da fonte
na ponta da lança
no monte profundo
nevada
entre os crimes contra mim
Maria Antonieta d´Alkmin
felicidade forjada nas trevas
entre os crimes contra mim
Maria Antonieta d´Alkmin
não quero mais as moreninhas de Macedo
não quero mais as namoradas
do senhor poeta
Alberto d´Oliveira
quero você
não quero mais
crucificadas em meus cabelos
quero você
não quero mais
a inglesa Elena
não quero mais
a irmã na Nena
não quero mais
a bela Elena
Anabela
Ana Bolena
quero você
toma conta do céu
toma conta da terra
toma conta do mar
toma conta de mim
Maria Antonieta d´Alkmin
e se ele vier
defenderei
e se ela vier
defenderei
e se eles vierem
defenderei
e se elas vieram todas
numa guirlanda de flechas
defenderei
defenderei
defenderei
cais da minha vida
partida sete vezes
cais da minha vida quebrada
nas prisões
suada nas ruas
modelada
na aurora indecisa dos hospitais
bonançosa bonança
convite
escuta este verso
que eu fiz para você
para que todos saibam
que eu quero você
imemorial
gesto de pudor de minha mãe
estrela de abas abertas
não sei quando começou em mim
em que idade
em que eternidade
em que revolução solar
do claustro materno
eu te trazia no colo
Maria Antonieta d´Alkmin
te levei solitário
nos ergástulos vigilantes da ordem intraduzível
nos trens de subúrbio
nas casas alugadas
nos quartos pobres
e nas fugas
cais da minha vida errada
certeza de corsário
porto esperado
coral caído
do oceano
nas mãos vazias
das plantas fumegantes
mulher vinda da china
para mim
vestida de suplícios
nos duros dorsos da amargura
para mim
Maria Antonieta d´Alkmin
teus gestos saiam dos borralhos incompreendidos
que tua boca ansiosa
de criança repetia
sem saber
teus passos subiam
das barrocas desesperadas
do desamor
trazia nas mãos
alguns livros de estudante
e os olhos finais da minha mãe
alerta
lá vem o lança-chamas
pega a garrafa de gasolina
atira
eles querem matar todo amor
corromper o pólo
estancar a sede que eu tenho de outro ser
vem de flanco, de lado
por cima, por trás
atira
atira
resiste
defende
de pé
de pé
de pé
o futuro será de toda humanidade
fabulário familiar
se eu perdesse a vida
no mar
não podia hoje
te ofertar
os nevoeiros, as forjas, os Baependis
acalanto
acuado pelos moços de forcado
flibusteiro
te descobri
muitas vezes pensei que a felicidade sentasse à minha mesa
que me fosse dada no locutório dos confessionários
na hipnose das bestas feras
no salto-mortal das rodas gigantes
ela vinha intacta, silenciosa
nas bandas de música
que te anunciaram para mim
Maria Antonieta d´Alkmin
quando a luta sangrava
nas feridas que sangrei
com alfinete na cabeça te deixei
adormecida
no bosque
te embalei
agora te acordei
relógio
as coisas são
as coisas vêm
as coisas vão
as coisas
vão e vem
não em vão
as horas
vão e vem
não em vão
compromisso
comprarei
o pincel
do Douanier
para te pintar
levo
pro nosso lar
o piano periquito
e o reader ´s digest
para não tremer
quando morrer
e te deixar
eu quero nunca te deixar
quero ficar
preso ao teu amanhecer
dote
te ensinarei
o segredo onomatopaico do mundo
te apresentarei
Thomas Morus
Federico Garcia Lorca
a sombra dos enforcados
o sangue dos fuzilados
na calçada das cidades inacessíveis
te mostrarei meus cartões-postais
o velho e a criança dos jardins públicos
o tutu de dançarina sobre um táxi
escapados ambos da batalha do Marne
o jacaré andarilho
a amadora de suicídios
a noiva mascarada
a tonta do teatro antigo
a metade da Sulamita
a que o palhaço carregou no carnaval
enfim, as dezessete luas mecânicas
que precederam teu arrebol
marcha
todos virão para o teu cortejo nupcial
a princesa Patoreba
coroada de foguetes
a senhora Dona Sancha
que todos querem ver
o tangolomango
e seus mortos mastigados
nas laboriosas noites processionais
todos comparecerão
o camarada barbudo
o bobo-alegre
o salvado de diversos pavorosos incêndios
o frade mau
o corretor de cemitérios
e onde esciver
o Pinta-Brava
meu irmão
Tatá, Dudu, Popó,
Sici, Lelé
não quero sombra de cera
nem noite branca de reza
quero o velório pretoriano
de Sócrates
não o bestiário
de Casanova
não quero tochas
não quero vê-las
Tatá, Dudu, Popó,
Sici, Lelé
o tio da América
a igreja da Aparecida
o duomo de Milão
o trem, a canoa, o avião
Tudo darei às mesas anatômicas
do mastigador de entranhas
himeneu
para teu corpo
construirei o dossel
abrirei a porta submissa
ligarei o rádio
amassarei o pão
black-out
girafas tripulantes
em pára-quedas
a mão do jaburu
roda de mulher que chora
o leão dá trezentos mil rugidos
por minuto
o tigre não não é mais fera
nem borboletas
nem açucenas
a carne apenas
das anêmonas
na espingarda
do peixe espada
trasncontinental ictiossauro
lambe o mar
voa, revoa
a moça encastra
enforca, empala
à espera eterna
do Natal
desventra o ventre donde nasceu
a neutra equipe
dos sem luar
no fundo, fundo
do fundo do mar
da podridão
as sereias
anunciarão as searas
mea culpa, lear
na hora do fantasma
entre corujas
Jocasta soluçou
o palácio de fósforo
múltiplas janelas
desmaiou
- por quê calaste os sinos?
meu filho filho meu
- dei, dei, dei
- onde puseste os reinos e as vitórias?
que estranha serenidade prometias?
- era ururpação, paguei
- passaste fome?
- muitas vezes comi as marés de meu cérebro
encerramento e gran-finale
nada te sucederá
porque inerme deste o teu afeto
no soco do coração
te levarei
nas quatro sacadas fechadas
do coração
deixei de ser o desmemoriado das idades de ouro
o mago anterior a toda cronologia
o refém de Deus
o poeta vestido de folhagem
de cocos e de crânios
Alba
Alfaia
Rosa dos Alkmin
dia e noite do meu peito que farfalha
a teu lado
terei o mapa-múndi
em minhas mãos infantes
quero colher
o fruto crédulo das semeaduras
darei o mundo
a um velho de juba
a seu procurador mongol
e a um amigo meu
com quem pretenderam
encerrar o sol
viveremos
o corsário e o porto
eu para você
você para mim
Maria Antonieta D´Alkmin
para lá da vida imediata
das tripulações de trincheira
que hoje comigo
com meus amigos redivivos
escutam os assombrados
brados de vitória
de Stalingrado
Oswald
de Andrade
Teatro
do Absurdo
Um possível encontro de Clarice Lispector e Federico
Baudelaire
Federico - come
vento menina come vento. não há mais metafísica no mundo do que comer vento
Clarice
-
prefiro chocolate
Federico - mas
isso aí é um livro
Clarice
-
não faz mal, é como se fosse
Federico - como
se fosse é muito vago
Clarice
-
pode ser vago pra você mas para mim não é
Federico - você
é muito estranha
Clarice
-
estranha por quê?
Federico
-
parece até que come livros!
Clarice - e o
quê você tem com isso? te incomoda?
Federico -
calma, não precisar s irritar!
Clarice
-
mas quem disse que estou irritada?
Federico - do
jeito que você fala!
Clarice
-
e você queria que eu falasse como?
Federico -
normal
Clarice - mas
eu falo normal como eu falo esse é o meu normal de falar. Se não está gostando dá licença, e para de
fazer perguntas.
Federico -
grossa!
Clarice - não
gosto de muitas perguntas. sou assim mesmo
Federico
-
mas não precisa xingar!
Clarice - e
quem foi que xingou?
Federico - se
não xingou foi quase
Clarice - me
deixa em paz. que eu quero terminar de comer meu livro
Federico - é
doida, comer seu livro?
Clarice
-
modo de dizer. já te disse sou assim mesmo
Federico -
assim mesmo como?
Clarice
-
gosto de comer livros, romances, ficção, principalmente poesia
Federico -
quero dizer que ainda arde tua manhã em minha tarde
Clarice - nem
vem que não tem
Federico - nem
tem o quê?
Clarice - essa
cantada barata
Federico - tua
noite no meu dia
Clarice - vai
insistir?
Federico - tudo em nós que já foi feito com prazer
ainda faria
Clarice - o
que nós já fizemos? tá doido?
Federico -
quero dizer que ainda é cedo ainda tenho um samba/enredo
Clarice
-
fique sabendo que prá mim é tarde
Federico
-
tudo em nós é carnaval é só vestir a fantasia
Clarice
-
detesto carnaval
Federico -
quero ser teu mestre sala e você porta/bandeira. quando chegar a quarta-feira a
gente inventa outra folia
Clarice - você quer fazer o favor de me deixar de comer meu livro
Federico
-
vai me dizer que não gostou?
Clarice
-
detestei. cantada barata igual a essa eu já ouvi de um monte
Federico -
duvido!
Clarice -
então fica aí com a sua dúvida por quê quanto a isso eu não tenho nenhuma. e me
dá licença que eu vou terminar de comer meu livro
com os dentes cravados na memória
re-lembrando 1992 quando na Livraria e Espaço Cultural
Alpharrabio em Sanrto André, conheci duas pessoas que para a minha trajetória e
vida poética, foram fundamentais: Dalila Teles Veras e Antonio Possidônio
Sampaio.
quando mergulho no ser veja
o samba pode não ser de Noel Rosa
como diz Adriano Moura
todo verso merece um dedo de prosa
aí desce a primeira, a segunda, a terceira
a quarta, a quinta, a sexta
e o instante se torna cabalístico
e vem o verso estilístico
e a coisa se aproxima de João Guimarães Rosa
e diante do meu ser me vejo
frente a frente com um Riobaldo/Diadorim
e é quando então me sinto um Oswaldiano/ SerAfim
Artur Gomes
com os
dentes cravados na memória
poema: confesso
não não sou
não é por ter nascido dentro do mato
de uma roça de que
tenho que ser.
definitivamente: não sou de Campos
sou da Cacomanga
Cacomanga é uma Makondo
com seus 100 Anos de Solidão
e Campos é uma capitania
com seus 500 anos de Servidão.
Artur
Gomes
FULINAIMAGEM
www.fulinaimagens.blogspot.com
a
Ferreira Gullar
em
memória
o mês de abril
não me traz boa recordação
dentro da noite veloz
só angústia e nostalgia
atravesso a escuridão
perseguido por esporas
cravadas na minha mão
na vertigem do dia
Federico
Baudelaire
https://www.facebook.com/federicoduboi/?fref=ts
a Oswald de Andrade
em
memória
tudo aqui era floresta
rios mares manguezais
caranguejos guaiamuns
onça pintada milho verde
mandioca
aí chegaram os portugueses
rezaram missas
trucidaram índios
escravizaram africanos
deu-se a mixegenação
uma pátria descoberta
mas até hoje
procuramos
o Pau Brasil dessa Nação.
Gigi
Mocidade
https://www.facebook.com/gigimocidade/
Muitos ainda me perguntam qual o significado da palavra
FULINAÍMA, palavra que criei e se tornou minha marca e derivados dela criei
ainda os neologismos: Fulinaímicas, Fulinaímânicas, Fulinaimagem.
Bem, de 1993 a 1997 vivi em São Paulo, por conta de dois projetos que idealizei e o SESC-SP realizou: em 1993 Mostra Visual de Poesia Brasileira - Mário de Andrade 100 Anos e em 1995 Retalhos Imortais do SerAfim - Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim.
Era natural que eu mergulhasse em pesquisas sobre vida e obra desses dois ícones da literatura paulistana. De Mário, além da poesia, fiz uma leitura atenta de Macunaíma - O Herói Sem Caráter, personagem que ele criou em um instante de febre, um delírio, um transe poético.
Em Macunaíma, entendi a minha formação étnica, bem como a da
maioria do brasileiro. Em Oswald, além da poesia, minha atenta leitura foi com
Serafim Ponte Grande, e nele entendi a minha irreverência, a inquietação
criativa, a flecha poética disparada para todos os cantos .
Por conseqüência desses dois projetos, a partir de 1995
passei a dirigir algumas Oficinas de Criação Literária e Performances Poéticas por várias unidades
do SESC-SP em cidades várias do Estado de São Paulo, o que acontece até os dias
de hoje.
Em 1996 me dirigia pela rodovia Bandeirantes com destino ao SESC - Campinas para uma dessas Oficinas de Criação em companhia do meu parceiro Naiman, quando a palavra FULINAÍMA me veio a mente pela primeira vez. De volta a São Paulo, na Rua Timbiras, onde residia na época escrevi o poema Goytacá Boy, imediatamente musicado pelo Naiman, e cantado por ele no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia, em 2002.
Daí em diante Fulinaíma foi se tornando um quase um sobrenome a mais, e ninguém que conhece a minha criação de perto não se assusta quando eu assino Artur Gomes Fulinaíma. Alguns até implicam achando que é uma provocação. Mas o verdadeiro significado está no AR , cabe a cada um de voz tentar decifrar.
Goytacá Boy
ando por são Paulo meio Araraquara
a pele índia do meu corpo
concha de sangue em tua veia
sangrada ao sol na carne clara
juntei meu goytacá teu guarani
tupy or not tupy
não foi a língua que ouvi
em tua boca cayçara
para falar para lamber
para lembrar
da sua língua arco íris litoral
como colar de uiara
é que eu choco como a chuva curuminha
mineral da mais profunda lágrima
que mãe chorara
para roçar para provar para tocar
na sua pele urucun de carne e osso
a minha língua tara
sonha cumer do teu almoço
e ainda como um doido curuminha
a lamber o chão que restou da Guanabara
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