domingo, 14 de julho de 2024

múltiplas poéticas

A arte e o seu templo

 

“e fosse o poema a dança oculta de uma  fala por baixo do silêncio, acima dos murmúrios de um pássaro a voar além do que traduzo”.

 

Igor Fagundes

In Pensamento Dança – tese de doutorado em Letras (UFRJ) 

* 

A arte expressa através do tempo

a história universal da humanidade

a veracidade, em cada pensamento

                         do homem e sua hora

 

a arte dança

pinta

encena

escreve filma

foto.grafa

fala

a arte não cala

 

explora invoca provoca

insiste resiste

clareia o templo escuro

arma/dura do humano

pra tatear o seu presente

tentar prever o seu futuro

 

enquanto escrevo

o pensamento dança

cada palavra voa

nesse corpo nem um pouco  santo

o riso pode vir do pranto

a lágrima pode descer do riso

na dupla face que carrego

todo sentimento  vem comigo

 

hoje nesse palco Trianon

em seus 26 anos de memórias

nesse poema falo  fotografo

danço escrevo quanto de bom

                       tem nessa história

metáforas em suas nuances

retrato em uma folha

a sua mais perfeita linha

a arte de suas performances 

 

eu te desejo flores lírios brancos 
margaridas girassóis rosas vermelhas 
e tudo quanto pétala 
asas estrelas borboletas 
alecrim bem-me-quer e alfazema 

eu te desejo emblema 
deste poema desvairado 
com teu cheiro teu perfume 
teu sabor teu suor tua doçura 

e na mais santa loucura 
declarar-te amor até os ossos 

eu te desejo e posso : 
palavrArte até a morte 
enquanto a vida nos procura 

 

Artur Gomes

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https://arturgumes.blogspot.com/


Jura secreta 23 

a lavra da pa/lavra quero

1

 

a lavra da palavra quero 
quando for pluma 
mesmo sendo espora 

felicidade uma palavra 
onde a lavra explora 
se é saudade dói mas não demora 
e sendo fauna linda como a Flora 
lua Luanda vem não vá embora 


se for poema fogo do desejo 
quando for beijo que seja como agora 

2

 

a lavra da palavra quero 
seja pele pluma

onde Mayara bruma 
já me diz espero 

saliva na palavra espuma 
onde tua lavra é uma 
elétrica pulsação de Eros 

a dança do teu corpo vero 
onde tu alma luna 
e o meu corpo empluma 
valsa por Laguna em beijos e boleros 

 

Artur Gomes

Do livro Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

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           Lado B – Lado A

 

O lado B sempre conta uma história que mesmo sendo a mesma o lado A não tem coragem de contar assim como marisa pode ser mim mesma federico baudelaire também pode ser federika lispector euGênio mallarmé rúbia querubim todos serAfim do mesmo canibalismo tupiniquim  desses templos trevosos que mostram escancaradamente onde foi parar a humanidade não apenas estes mas também os outros nove se debatem na estrada do desespero procurando a fresta alguma luz no fim do túnel nos telhados de assombradado ou nas vozes de lobisomens que ecoem dentro das paredes do hotel amazonas afogadas que foram nas águas do paraíba quando ainda império galvez passou por aqui

 

Artur Fulinaíma

Do livro Inédito: Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

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Prefácio

 

Obra poética necessária, tive a grata surpresa de ser convidada a realizar a leitura sensível e fazer o prefácio de “O Peito Perfurado da Terra”. Yara  Fers é poeta de repertório e capacidade  para dar à luz este livro, que tem o diferencial de apresentar o humano como natural, perfurando uma chaga aberta com a potência dos versos.

 

A obra trata da conexão imbricada entre  ser humano e meio ambiente, com foco nos danos queriam decorrentes da exploração do sal-gema pela mineradora Braskem, desde a década de 1970 em Maceió, capital das minhas Alagoas, danos que atingiram, principalmente, os bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom Parto, em evidência a partir do abalo de terra de março de 2018.

 

O título é direto. Quem ler “O peito perfurado da terra” sabe que vai encontrar uma obra a despertar sua sensibilidade e tocar a racionalidade essencial ao pensamento crítico. Nada mais bem-vindo em tempos de discussões acirradas sobre mudanças climáticas, migrações causadas por alterações no meio ambiente e gradual escassez de recursos naturais que sustentam a vida – incluídos os seres humanos – há tantas gerações.

 

De início, destacam-se a pertinência e a relevância da obra, pela urgência do tema e recenticidade do evento específico que a motivou. O texto de abertura (“o afundamento”), sinaliza a que veio “O peito perfurado da terra”. Poema estruturante acerca da temática principal do projeto, o poema denuncia:

 

já havia relatório afirmando que o local era inapropriado.

relatório ignorado (...)

(...) a população não foi consultada,

a empresa  se redime de responsabilizações futuras

e fica com a posse dos imóveis desabitados.

(...) já ganhou e ganhará mais ainda com a tragédia.

tudo feito com anuência e fiscalização dos órgãos públicos.

 

Entretanto, não se engane a pessoa leitora. A expansão do dizer chega a outras ações que alteram profundamente  a natureza e a vida humana como parte dela. Os versos seguem ampliando a visão socioambiental, com a universalização da mensagem. O registro dos danos causados pelas guerras, por exemplo, escancara a conexão entre o bicho humano e  o planeta.

 

A artesã das palavras, a autora sabe ser direta e sabe ser sutil. Recursos diversos desfilam em sua obra, com figuras de linguagem e estética impecáveis. A diversidade da letra poética  de Yara brinda quem lê  com toda uma gama de possibilidades, do poema mais narrativo ao metalinguístico, expandindo a função máxima da poesia: apresentar o mundo de outra forma.

 

A estética também é uma marca, desenhando a forma por trás do conteúdo lírico. É a dor da terra perfurada, os versos que escorrem como água-lágrima da lagoa envenenada, e também a tessitura-célula do “filé”, arte manual das rendeiras alagoanas, uma inspiração. Em “furo”, temos a completude, em “desestrutura do solo” e “fissura”, a especificidade e a forma apurada; “cidade-corpo” traz a ecopoesia manuelina, como já exibida em “tremor”, em que se reverá o buraco desse corpo-natureza atingido de morte:

 

e então

o oco do peito

ferido da cidade

inspirou fundo

um suspiro triste

 

sugando a superfície

 

o corpo que

eras atrás

ergueu músculos de falésias

(...)

 

Iniciei este prefácio tratando da boa surpresa sobre a obra. Contudo, o melhor, se é possível assim me referir à minha satisfação, confirmou-se ao final da leitura: há esperança. Na seara da poesia da natureza, mostram-se a reflexão de “refundação” e a reconciliação de “reverência”, um suspiro para o refazimento da natureza, além do humano.

 

ouvir as histórias

que as camadas sedimentares do solo

têm pra contar

(...)

reparar na sinfonia

que se compõe

entre o sabiá, as folhagens e o vento

(compreender que somos

                  parte da música)

(..)

 

Entre se restringir à dor ou apostar no futuro, por não sermos paisagem, mas fruto e semente, a poeta faz uma opção clara, porém consciente de que a natureza pode prescindir do bicho que a destruiu.

 

Maceió, 02 de abril de 2024.

 

                Milena Maria Testa

                                   Escritora

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Pátria A(r)mada 

https://arturfulinaima.blogspot.com/


Yara Fers, é paulista de Ribeirão Preto, mora na Bahia. Vive de escrita e literatura, atuando como editora, professora e mentora de escrita. Criou a editora Apilhera, de livros artesanais. É editora de comunicação do Portal Fazia Poesia. Possui graduação em Comunicação Social e Especialização em Teoria da Literatura e Produção Textual. 

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