Tomasz Bolek
in
"Tradutor de Chuvas"
Medo do amor
quando tudo é fome.
E onde tudo é tão pouco,
medo de a carícia
despertar insuspeitos infernos.
Medo de sermos
só eu e tu
a humanidade.
E morrermos
de tanta eternidade.
Mia Couto
Arte © Tomasz Rut
Mallarmé, seu nome era Étienne, mas
escolheu adotar Stéphane.
A primeira imagem é o célebre quadro
pintado por Manet, em 1876. O outro é de Renoir, 1895. A terceira, uma foto com
Renoir e Mallarmé tirada por Degas.
Marcantonio Costa
Estreia quinta feira - 25/01/2024.
19h.
local - praça São Pedro em
Gargaú/SFI/RJ
O documentário debulha um pouco da
história de Gargaú através de 16 personagens, alguns centenários.
A memória, atravessada por alegrias e
tristezas, é revelada nos versos, cantorias de Fado e nas histórias de vida e
trabalho.
Leve sua cadeira.
Participe, divulgue!
Carolina de Cássia
'Um dia
descobri que cantava.
O meu filho mais velho João Carlos estava morrendo
e eu já tinha perdido 2 filhos e não queria perder mais um.
Eu não tinha dinheiro pra cuidar do meu filho e ouvi no rádio que o programa do Ary Barroso de calouros Nota 5, estava com o prêmio acumulado. Não sei como, mas eu sabia que ia buscar esse prêmio!
Fiz a inscrição e me avisaram que eu precisava ir bonita. Mas eu não tinha roupa nem sapatos, não tinha nada! Então, eu peguei uma roupa da minha mãe, que pesava 60kg e vesti, só que eu pesava 32kg, já viu né? Ajustei com alfinetes. Tudo bem que agora é moda ne? Hoje até a Madonna usa, mas essa moda aí fui eu que comecei viu? Alfinetes na roupa é muito meu, é coisa de Elza!
No pé coloquei uma sandália que a gente chamava de “mamãe tô na merda”, e fui!
Quando me chamaram, levantei e entrei no palco do
auditório. O auditório tava lotado, todo mundo começou a rir alto debochando de
mim
Seu Ary me
chamou e perguntou:
_ O que você veio fazer aqui?
_ Eu vim Cantar!
_ Me diz uma coisa, de que planeta você veio?
_ Do mesmo planeta seu Seu Ary.
_ E qual é o meu planeta?
_ PLANETA FOME!
Ali, todo mundo que estava rindo viu que a coisa
era séria e sentaram bem quietinhos.
Cantei a música Lama.
O Gongo não soou e eu ganhei, levei o prêmio e meu
filho está vivo até hoje, graças a Deus!
De lá pra cá, sempre levo comigo um Alfinete.
Naquela época eu achava que se tivesse alimentos pros meus filhos, não teria mais fome. O tempo passou e eu continuei com fome, fome de cultura, de dignidade, de educação, de igualdade e muito mais, percebo que a fome só muda de cara, mas não tem fim.
Há sempre um vazio que a gente não consegue preencher e talvez seja essa mesma a razão da nossa existência.'
Elza Soares (1930-2022)
Cantigas leva-as o vento
"A lembrança dos teus beijos
Inda na minh'alma existe,
Como um perfume perdido,
Nas folhas de um livro triste.
Perfume tão esquisito
E de tal suavidade,
Que mesmo desapar'cido
Revive numa saudade"
Florbela Spanca
A poesia
Onde está
a poesia? Indaga-se
por toda parte. E a poesia
vai à esquina comprar jornal.
Cientistas esquartejam Puchkin e Baudelaire.
Exegetas desmontam a máquina da linguagem.
A poesia ri.
Baixa-se uma portaria: é proibido
misturar o poema com Ipanema.
O poeta depõe no inquérito:
Meu poema é puro, flor
Sem haste, juro!
Não tem passado nem futuro.
Não sabe a fel nem sabe a mel:
É de papel.
Não é como a açucena
Que efêmera
Passa.
E não está sujeito a traça
Pois tem a proteção do inseticida.
Creia,
O meu poema está infenso à vida.
Claro, a vida é suja, a vida é dura.
E sobretudo insegura:
“Suspeito de atividades subversivas foi detido
ontem
o poeta Casimiro de Abreu.”
“A Fábrica de Fiação Camboa abriu falência e deixou
sem emprego uma centena de operários.”
“A adúltera Rosa Gonçalves, depondo na 3ª Vara de
Família,
afirmou descaradamente: ‘Traí ele, sim. O amor
acaba, seu juiz.’”
O anel que tu me deste
era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas
era pouco e se acabou
Era pouco? Era muito?
Era uma fome azul e navalha
uma vertigem de cabelos dentes
cheiros que traspassam o metal
e me impedem de viver ainda
Era pouco? Era louco,
um mergulho
no fundo de tua seda aberta em flor embaixo
onde eu morria
Branca e verde
branca e verde
branca branca branca branca
E agora
recostada no divã da sala
depois de tudo
a poesia ri de mim
Ih, é preciso arrumar a casa
que André vai chegar
É preciso preparar o jantar
É preciso ir buscar o menino no colégio
lavar a roupa limpar a vidraça
O amor
(era muito? era pouco?
era calmo? era louco?)
passa
A infância
passa
a ambulância
passa
Só não passa, Ingrácia,
A tua grácia!
E pensar que nunca mais a terei
real e efêmera (na penumbra da tarde)
como a primavera.
E pensar
que ela também vai se juntar
ao esqueleto das noites estreladas
e dos perfumes
que dentro de mim gravitam
feito pó
(e um dia, claro,
ao acender um cigarro
talvez se deflagre com o fogo do fósforo
seu sorriso
entre meus dedos. E só).
Poesia – deter a vida com palavras?
Não – libertá-la,
fazê-la voz e fogo em nossa voz.
Poesia – falar
o dia
acendê-lo do pó
abri-lo
como carne em cada sílaba,
deflagrá-lo
como bala em cada não
como arma em cada mão
E súbito da calçada sobe
e explode
junto ao meu rosto o pássaro? O pás...?
Como chamá-lo? Pombo? Bomba? Prombo? Como?
Ele
bicava o chão há pouco
era um pombo mas
súbito explode
em ajas brulhos zules bulha zalas
e foge!
como chamá-lo? Pombo? Não:
poesia
paixão
revolução"
Ferreira Gullar, em "Dentro da noite
veloz", 1975
cacomanga
na roça desde cedo comecei a escavar palavras e separar uma das outras de acordo com o seu significado dar farelo de milho para os porcos e olhadura de cana para o gado aprendi que no terreiro não dependo de mercado e para que urbanidade se a cidade não tem paz com a enxada capinei a liberdade e descobri que ditadura é uma palavra que não cabe nunca mais
quando escrevo e eu mesmo não entendo o significado de uma
determinada metáfora lanço a maldita no vento invento outra e vou ao centro do
universo e xingo teu nome: garrutio lamparão de bico kabrunco de poema que não me dá sossego
Artur Gomes
Pátria A(r)mada - 2ª Edição - Desconcertos Editora 2022
arrimo
fico a esperar prazenteiro
maria vem todo dia
traseiro fenomenal
meu fundo de garantia
essa mulher maravilha
me leva em sua canoa
abastece minhas pilhas
faz-me a vida muito boa
navego nas suas ondas
no céu da boca o delírio
minha alegria se alonga
maria é o ar que respiro
sou marinheiro de sorte
maria é minha guarita
a morte vem e me abate
maria me ressuscita
* líria
porto
Germina - Revista de Literatura e Arte
Poema de um belo livro: "A rosa
mística", de Cleber Pacheco. – Adelaide do Julinho
https://www.facebook.com/GerminaRevistaDeLiteraturaEArte
João
Bosco visita barracão do Tuiuti e confirma participação no desfile
da escola
Um dos maiores cantores e compositores do Brasil
confirmou presença no desfile do Paraíso do Tuiuti neste Carnaval. João Bosco,
ao lado da filha Julia Bosco e de Moacyr Luz, visitou o barracão da
agremiação, na Cidade do Samba, na tarde desta terça-feira (16), e conferiu
detalhes com o carnavalesco Jack Vasconcelos do enredo sobre João Cândido. A
canção "O mestre-sala dos mares", de Bosco e Aldir Blanc, serviu de
inspiração para a criação do tema da azul e amarelo.
"Ter o João Bosco com a gente é reverenciar a
história do João Cândido. Muitos brasileiros só foram apresentados à heróica
história de João Cândido quando, em 1974, João Bosco e Aldir Blanc compuseram o
clássico 'O Mestre-Sala dos Mares", imortalizado na voz da Elis Regina.
Nós vamos reverenciar, mais uma vez, a história e o legado de João Cândido na
Avenida", conta Jack.
O artista desfilará ao lado da família de Aldir
Blanc na última alegoria do Tuiuti. A escola será a quinta a desfilar na
segunda-feira de carnaval com enredo "Glória ao Almirante Negro!",
uma homenagem a João Cândido, marinheiro brasileiro que atuou na liderança da
Revolta da Chibata.
aos olhos de Wermmer o amor é natural
como a menina dos brincos de pérola
na pétala do moinho de ventos
Artur Gomes
imagem: Jose Cesar Castro
wermmer além da alma -
variações sobre o mesmo tema: a menina dos brincos de pérola
césar castro transpiração gráfica
artur gomes poemas
exposição realizada no Sesc Campos - 2007
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