Para Rúbia Querubim
tudo enquanto verso
tudo enquanto rima
a pele rara da menina
lança perfume parafina
no carnaval lança confete
perfume do bom é serpentina
Artur Gomes Fulinaíma
https://braziliricapereira.blogspot.com/
Para Rúbia Querubim
tudo enquanto verso
tudo enquanto rima
a pele rara da menina
lança perfume parafina
no carnaval lança confete
perfume do bom é serpentina
Artur Gomes Fulinaíma
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FULINAIMAGEM
Campos: 184 Anos
:
Onde estão os Goytacazes?
BraziLírica Pereira revisitada
Leminki
Ando
só olho ana à vera
faça outono ou primavera
quantas eras quantas anas
em carnaval meu olho disse:
ana à vera vera ana
ana clara claralisse
vejo ana lendo eunice
quando li eu vi luana
e
ana ali
só vi liana
ana verso
analice
um
lance de dados
doze e quarenta
e seis
mallarmè
na hora incerta
dormindo invisível segunda
semana de dedos nas bocas
sinal inviável na quarta
dedo de deus numa terça
jogando dados na sexta
macabea
vozifera
lady gumes a diretora geral do presídio federal de
brazilírica, impressionada com a decisão pungente das metáforas em produzir
libertinagens, traçou um plano para que as meninas pudessem vez em quando
sobrevoar os céus do parador em grande falo gigante capricónio tropical.
macabea, a ofendida tentou de tudo: forjou mentiras,
corrompeu guardas, comprou juízes, cooptou alunos, advogados de deus e do
diabo, para que o vôo libertino das metáforas fosse exterminado.
"não estou aqui para que pintores sem a mínica
competência pictórica tentem lambuzar com qualquer tinta da porra a minha
estrela que não sobe". voziferou Macabea.
mas lady gumes, decidida, prosseguiu afinado a faca de dois
gumes e, no momento exato final e derradeiro, serrou as grades de ferro que
amarravam as portas do corredor central. assim feito, as metáfroas sobrevoaram
com o zepelin rasante, levando nas asas o seu másculo músculo aninam, e as
metáforas se abriram flor de lotus tropicalha como filhas do chico da
mangueira.
murilínDia
por cima dos pianos
na madrugada devorando
amoras.
macabea invoca nossa
senhora das derrotas
o poeta flama inverso
macabea chora.
experimental barroco o
poeta sobrevoa
palácios e urubus.
macabea tenta
mas não consegue ser
pagu. para enfrentar o desvario.
o poeta está nu cio.
macabea corre o poeta experimental
passeia sua cueca
monossilábica
o poeta é phoda.
macabea pede:
o menino faz que não
entende.
macabea implora:
e o poeta põe na
metáfora do cu.
B
no
coração dos boatos
isso aqui não é a hora da estrela,
minha mãe não é alice
que apesar de freira, de hábito só tinha o vício
de me prender pro entre o crucifixo
colocado em suas
pernas.
macabea vivia falando sozinha
pelos corredora federais da outra iquisição.
conseguia vez em quando reunir alguns habitantes mal
informados sobre a inssurreição
das artes aromáticas
e passava o tempo querendo mostrar
seus dotes na culinária nua e crua.
seviciadas pelos estivadores daquele cais do porto
tentou arrancar o sexo com as unhas
e enlouqueceu uivando como loba amarrada à santa cruz da
goiabeira.
pessoas que me comovem são
aquelas que vivem ou viveram com os seus fios elétricos ligados cuspindo seus
relâmpagos suas trovoadas sobre as nossas tempestades. Sou fanático sim por
blues samba e reggae. faço as minhas escolhas independente do meu coração partido
e sigo vivo com os Dentes Cravados na Memória para nunca jamais esquecê-las. pessoas
que me comovem rasgam o peito e deixam sangrar poesia.
Poética
100
desconstruir os objetivos fascistas
: eis a questão
missão diária de cada um de nós
poetas
quando sabemos que a linha torta
é muito mais
que um poema em linha reta
Poesia:
Fulinamgem
Linguagem:
toda viagem
Quando
Zeus me
apresentou o raio conheci um pássaro azul que me guarda na varanda
tragicomédia
brasileira I
a boca salta pela língua
vísceras de peixes nos varais
meu corpo parede sem reboco
anjo barroco em trapos ancestrais
a casa de cimento pai à pique
roubaram da criança
o piquenique
no país que já foi meu
hoje não mais
Mário Faustino re-visitado
experiência: vida/viagem
poesia toda linguagem
Lady
Gumes apresenta
Federico
Baudelaire
em
Um Lance
De Dedos
com quantos silêncios se faz uma palavra oculta mesmo assim as
claras foram comidas pelo mar nessas doidas aventuras a baía esplendia com seus
morros e enseadas seriam talvez quatro da manhã quem foi aos infernos sem estar
iniciado e purificado será precipitado na lama meus olhos faziam linha reta com
a boca de fogo que atirava
salve-me rainha fui atrás e encontrei-a deitada com a saia
completamente erguida tinha tirado a calça branca de algodão e a tendência de
incorporar a infância mais no corpo social que no grupo familiar o
tangenciamento desse nó górdio em que campos alertava para as relações dos dois
manifestos que alertavam para as transformações do mundo salve-me rainha porque
nessas questões da mulher e do amor a vitória não consiste somente na posse da
verdade inquietante que ela com tanto brilho anunciara exigem uma análoga
revolução na estruturação da linguagem contra a chibata e a carne podre que se
lançava no mar ou então que se passem os olhos sobre a crise messiânica o homem
sem profissão o verdadeiro cozinheiro das almas ela estava sentada numa cadeira
sempre a mesma situação principalmente nesta peça ademir assunção e sua máquina
peluda escrivocando sarcasticamente ao rei portugal saravá saravá meu rei pirei
durante dois anos carreguei um inútil luto fechado fazia isso sem a menor
cerimônia tensão palavras coisas no espaço tempo para penetrar o âmago sintético de suas virtualidades ao inserir suas reflexões no contexto mais amplo da dimensão sócio-cultural penetrar por entre as malhas das aparências apesar dar diferenças e divergências salve-me rainha aqui ali e acolá em paralelo a tudo isso que se pensa também mas é que ontem quando o trem passou na estação tinha se revelado um hábil condutor de navios tudo isso e maior drama e nada seria se o rio grande não fosse o lugar do drama que hora desce sobre mim e sob o impacto do ciúme a gente atira em freud e o enigma reflui retruca com um outro refluxo de ciúme que retorna nas ciladas do incesto e se levanta para amaldiçoar o ovo salve-me rainha em torno da mulher os homens formam duas correntes completamente diversas e opostas sejamos portanto pós esses acenos levados de volta ao que nos cabe discernir antes disso porém lembramos ao leitor por falta de um objeto predestinado que deveria ser o próprio ser da sua existência então nos servimos de algumas declarações assim como uma antologia movido talvez por um sentimento de irresponsabilidade lampejos claros sobre uma confusão interminável embaralhando cartas sob a mesa existe realmente uma desordem sem uma única esperança ante a agonia salve-me rainha o ciúme que se tornou minha amante não por fruto de qualquer casualidade passageira ao mesmo tempo que não tem nenhum pudor de lançar mão penetrar fundo no lugar onde ela estava que na primeira oportunidade tive de estar com ela sozinho em casa procurei-a na cama e calmamente seguiu-se a mestra das artes de guerra do amor sob o arco da ponte transversal enquanto explicava que o seu órgão genital não tinha forças para escrever mais um romance para mim
continua na próxima postagem
Artur Gomes
SubVersão PoÉtica
www.peronasarturianas.blogspot.com
oficial quase sempre
me dá asco
sou o carrasco
da farda e da gravata
inimigo nº 1
do nó que não desata
Artur Fulinaíma
Uma Outra
Inquisição?
Arthur
Soffiatti – Logo de cara, quero declarar que Artur Gomes pode
ser considerado o melhor poeta campista da atualidade, sobretudo porque,
campista ele ultrapassa os limites do município e é reconhecido nos meios literários
nacionais.
Mário
Sérgio – (arquiteto pós-moderno) –Sei não, Artur parece meio enganado,
enganoso e enganador. Por trás de sua escrita aparentemente revolucionária,
esconde-se um poeta convencional que, nem mesmo se afirmou, já revela sinais de
uma criatividade esgotada.
Sérgio
Provisano – É, estou de acordo. Chega de federika bezerra, lady gumes,
e de mocidade independente de padre olivácio.
Mário
Sérgio – Não apenas esta fixação, que parece neurótico-obsessiva, mas o
uso concreto da página com uma poesia discursiva, mais para o ouvido do que
para a vista. Cito alguns exemplos: a palavra grafada em cores, os dois pontos
isolados, o emprego de letras maiúsculas, todos eles como recursos que passam
despercebidos na oralidade do poema declamado.
Arthur
Soffiatti – Já que minha declaração inicial gerou uma discussão sem que
fosse esse o meu intuito, requeiro de volta a palavra. Há no novo livro de
Artur, um poema de cintilante lucidez.
Trata-se de antiLírica:
“eu não
soun zen
muito menos
zhô
nem tão
puco zapa
nem ando
na contra¢apa
do teu
disquinho digital
não
alinho pela esquerda
nem a direita
do fonema
vôo no
centro viagem
olho
rasante miragem
vei
pulsante poema”
Sem levar em conta seu caráter discursivo, que deve ser
discutido, mas não é discutível, estamos diante de um poema-manifesto. Ele
explica o alinhamento dos poemas de BraziLírica
Pereira : A Traição Das Metáforas pela direita e não pela esquerda. Agora
faço questão de ir às últimas conseqüências do que vocês estão falando: nem
mesmo o mais discursistas dos poetas pôde, até o momento, prescindir do suporte
da página, inclusive da página da tela do computador. E então eu pergunto: por
quê alinhar o poema pela esquerda e não pela direita?
Sérgio
Provisano – É preciso começar a frase de algum ponto, e nas linguagens
gregas e latinas, escreve-se da esquerda para a direita, ao contrário do árabe
e do hebraico, escritos da direita para a esquerda, ou do chinês, escrito de
cima para baixo.
Arthur
Soffiatti – Certo, mas até mesmo o mais empedernido dos poetas
clássicos não permanece rigidamente colado à margem esquerda. Há afastamentos
progressivos da margem, há escapulidas para o centro, há espaços entre as estrofes,
tudo também recurso de escrita que desaparece na fala. Só há uma forma de
livrar-se do espaço visual : é recorrer aos registro da palavra em disco ou em
fitas magnéticas. Todavia, não é comum um poeta lançar obra sua em disco de
vinil ou “laser”, em fita cassete ou em vídeo. Primeiro vem o livro. Em síntese,
não nos libertamos do livro e considero ótima essa prisão.
Mário
Sérgio – Dei uma olhada em BraziLírica
Pereira : A Traição Das Metáforas – Parece uma homenagem ao escritor
paulista Uilcon Pereira. Curioso é que, num sebo da velha rodoviária de Campos,
encontrei um livro de Uilcon Pereira à venda, com uma dedicatória a Artur. O
cara gosta tanto do Uilcon que vendeu um livro dele com dedicatória! Que
homenagem é esta?
Sérgio
Provisano – Você é bem campista mesmo, Primeiro, deu uma olhada no
livro, não o leu. Segundo, tem a
impressão de que presta uma homenagem . Terceiro, vem com um argumento externo
ao livro para julgar sua qualidade. Artur também se apropriou de livros de
Oswald de Andrade na biblioteca do Soffiatti. Vá lá que tal gesto seja
considerado uma falha de caráter, mas ele não depõe contra a obra. Se
caminharmos por essa trilha, a obra de Wagner deve ser jogada no lixo.
Mário
Sérgio – Estou aqui a recordar Prata Tavares, para quem Artur Gomes
não tinha cultura poética. Ele ia mais longe, inclusive sustentando que Artur,
mesmo com seus poeminhas, não poderia ser mais considerado um poeta, pois que
abandonava a palavra. Acho que o Prata tinha razão quanto aos dois pontos.
Arthur
Soffiatti – De fato, Prata Tavares externou esta opinião a mais de uma
pessoa com sua inconfundível voz fanhosa. Era o julgamento dele com relação a
um poeta jovem que talvez não tivesse lido o suficiente de poesia. Tal
julgamento, porém, não invalida o
talento. Mas, atualmente, convenhamos, Artur demonstra cultura poética. Em BraziLírica Pereira, além de inspiração,
há cultura poética. Encontramos nele achados, como: “drummundo pra todo canto”,
“esse Não ç dilha” “cerVeja agora” ou esta genial:
“salvador
não é dali
a mulher que quero mesmo
é um dedé
que não dadá
bia de
dante do inferno
itamarati Itamaracá”
Cumpre observar, também que o livro está repleto de referências
a Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski, Mallarmè, Chico Buarque de
Hollanda, Murilo Mendes, Clarice Lispector, Oswald de Andrade, Ana Cristina
César, Ferreira Gullar, João Guimarães Rosa, Torquato Neto, Ezra Pound, Simone
de Beavoir, Sartre, Sousândrade e até Marcabru. Vocês sabem quem foi Marcabru,
poeta provençal hermético e soturno? Creio que o Prata teria outro juízo de
Artur se vivesse.
Mário
Sérgio – E quanto ao fato de Artur não ser poeta por abandono da
palavra?
Arthur
Soffiatti – Certa vez, Prata escreveu um artigo colocando a palavra
como inerente à poesia. Neste sentido, ele ainda admitia o concretismo. Não,
porém, o poema processo, que substitui a palavra por signos visuais. Ele se
apegava a Pound , considerado um dos maiores poetas do século XX, para ilustrar
sua tese de que a poesia não pode abandonar o reino da palavra. Escrevi um
artigo longo de bem chato, por sinal, mostrando que esta concepção de poesia
acabou quando registraram em signos, sobre uma superfície qualquer, a palavra
oral. Nesse momento, a poesia deu seu primeiro passo para transferir-se da boca-ouvido-cérebro
para o olho-cérebro, abolindo o intermediário. Mesmo assim continuavam
possíveis as leituras auditiva e visual do poema. Mas vejam bem: talvez haja
mais relação das escritas pictográfica e ideográfica com a oralidade do que das
escritas fonética e alfabética com a mesma oralidade. O contato com o
pictograma ou com o ideograma nos remete diretamente à ideia da coisa
representada e ao seu enunciado. Um desenho estilizado de uma árvore fala mais
rapidamente de árvore do que a palavra árvore,
que não tem qualquer semelhança
com a coisa representada. Ela apenas nos remete à palavra oral que se refere o
objeto. Neste sentido, o poema grafados nos sistemas de escrita ocidental estão
mais longe da oralidade que a pictografia do paleolítico superior. O desenho de
uma flor fala mais imediatamente de uma flor do que a palavra Flor fala da flor através da imagem. Esta
é a primeira forma de escrita que as crianças aprendem. Não é atoa que, mesmo
antes de aprender a falar, elas já reconhecem signos. Quando aprendem, as palavras
correspondentes vem à boca ao vê-los. Já com os signos usados para indicar o
nome do objeto ou de uma ideia, o aprendizado é mais lento. Em síntese, o poema
pode usar sinais linguísticos em sua fatura. O próprio Pound, admirado pelo
Prata, valia-se de símbolos das escritas ideográficas em seus poemas.
Mário
Sérgio – Argumente como quiser, cara, mas minha opinião continua a
mesma.
Sérgio
Provisano – É, eu também não estou devidamente convencido.
Mário
Sérgio – Nem eu.
Arthur
Soffiatti – Tudo bem. Que a discussão fique em aberto, mostrando que
Artur Gomes é uma figura polêmica de nossa intelectualidade.
Uilcon
Pereira – Fiquei daqui um bom tempo, ouvindo vocês nessa fogueira
inquisitória. E olha que quem inventou a outra inquisição fui eu. A bem
verdade, vocês falam do escultor sem prestar muita atenção às suas ferramentas.
Ora essa! Vocês estão como aqueles que pensavam que a obra do Artur Gomes já
estava consolidada e definida, em termos de cristalização dos pressupostos,
modelos e técnicas. Nos jogos entre oralidade e escrita poética, os novos
textos viriam somente aprofundar e desdobrar esses fundamentos, sem renovações
estruturais de maior alcance. Puro engano, todavia. No verão de 1996, o
exMaluco de Campos abre-nos de repente uma surpreendente face “outra”,
absolutamente inesperada e imprevisível. Para nosso espanto meio embasbacado, eis
que surge uma boa vintena de experiências – a meio caminho entre poesia e artes
visuais - , verbo e recursos plásticos – aproximando material escrito e cores,
recortes de papel celofone, fotos, desenhos, tramas, relevos, retalhos de
tecidos, superposições, transparências.
Mário
Sérgio – Mas isto não é o que ele chama de fase dos “Retalhos Imortais do SerAfim”, em que mais se aprofunda na
tentativa do abandono da palavra?
Uilcon
Pereira – Podemos considerar mais de perto a fase “outra”,
complementária da anterior, jamais contraposta ou substitutiva da estratégia
que o caracterizou até hoje: nos “poemas.gráfico.visuais”,
como ele intitula em CarNAvalha Gumes
este “work-in-progress” – são utilizados lápis de cera, crayon, caneta
esferográfica, afiados por suas armas brancas, tesoura, estilete, gilete: o
suporte é de papel shoeler ou fabriano, mais raramente cartão tela: nos ofícios
bricolagem, mesclam-se letras, frases inteiras ou estilhaçadas, nomes próprios,
pedaços de versos, blocos de caracteres impressos ou anotações manuais, sinais
de pontuação, resíduos de jornal, pinturas, olhos, panos (atenção, igualmente:
nesta arte pobre, de volta a um artesanato bem primitivo, há muita
sensibilidade das tesouras, colas, gestos, sinestesias, conexões, transições e
cortes abruptos). Sim, os “poemas.gráfico.visuais”
de Artur Gomes incorporam acaso, integram o azar, a improvisação e elementos do
inconsciente. Organizam-se, porém, a partir de (no interior de) uma só matriz
bem definida e simples: campos lúdicos de formatos retangulares, com orientação
vertical ou, mais eventualmente, horizontal. E podem, exigem paredes, murais,
painéis; a vocação deles vai em direção às galerias, saguão de faculdades ou
biblioteca, centro cultural, mostras de poesia visual, grandes exposições de
arte. Lugares de vida coletiva enfim, espaço onde públicos vastíssimos podem
circular, trocar opiniões, dialogar sem aqueles rigores e solenidades da
leitura solitária. Na deriva, saltam das páginas de livros e fazem suas
festanças sensoriais, multicoloridas erotisadas, em posições de frontalidade.
Assim, desafiam e instigam os leitores/contempladores, que também os
recebem de pé, eretos, olhos nos blocos de efeitos verbo/visuais, aproximando-se
ou tomando distância, entre a diversão sem compromisso e/ou atitudes cognoscitivas, estéticas, interpretativas. “todo POEMA tem dois gomes” diz uma das poucas sentenças de sentido claro, legível,
contrastando com acumulações de grafites, rabiscos, empastelamentos,
caligrafias que já não obedecem aos traçados habituais – enigmas da escritura
que se faz imagem e libera suas virtualidades plástico-visuais. Dois Gomes, dois gumes, na interface
literatura artes visuais, poesia intersemiótica já se despedindo das formas,
tradições, códigos, e suportes mais convencionais, seculares; linguagem nova,
escrita especializada, em estado nascente, vinculada aos ícones, manchas, zonas de cor, planos e eixos da figuralidade;
linguagem que invoca necessariamente um gênero de leitura específico, uma
atividade do “Vler”, para retomar
aqui um conceito por mim formulado em 1973, em tese de doutoramento sobre os
enlaces da figuração escrita, percepções
imagéticas e leituras simultâneas, conectadamente, indissoluvelmente. “poema continua a ser poema” – eis o
segredo dessa investigação de Artur Gomes para quem um poema é um poema é um poema, ainda que aflore em convergência, contraposição
ou ar de família, com bandeirinhas do Brasil ou de Volpi, translucidez e
opacidade, tecido, arabescos, garranchos, cascatas de papel, amarelo, azul, vermelho,
brancuras e negrumes na ordenação global. Poema
continua a ser poema, ou volta a ser poesia de alta qualidade, agora
entreTecido com outras figuras de fantasia, inserido também nos vastos
circuitos ideológicos da sociedade pós-moderna, império dos signos
fragmentários e carregados de apelo visual – cartazes, revistas, páginas de
jornal nas bancas, capas de discos, logotipos, placas, faixas, luminosos,
outdoors, clips, quadrinhos, vídeos, slaides, folhetos, livros ilustrados,
joguinhos eletrônicos.
Fernando
Aguiar – Li CarNAvalha Gumes,
e confesso que há muito não lia um
livro tão instigante, e olha que sou crítico contumaz de poesia escrita.
Leontino
Filho – Desde Suor & Cio
e Couro Cru & Carne Viva, pude
constatar o que é uma poesia nua e crua, e ao mesmo tempo de um lirismo
incomum.
Enzo Minarelli – Parece-nos que Artur Gomes calçou coturnos
mágicos e como um tigre de botas , com um olhoantena,
capta as imagens no inconsciente do ser, como se ao mesmo tempo habitasse nele
um coletivo urbano expulso de sua selva natural. Antropofágico, come e vomita transformando em
arte a indgestão.
TROPICALIRISMO
GIRAssóis pousando
nu teu corpo: festa
beija-flor seresta
poesia fosse
esse sol que emana
no teu fogo farto
lambuzando a uva
de saliva doce
MAGIA
quando meto pés
em tuas matas
selvagem índio
pássaro animal
devasto céus sem ter limites
com poesia sobrenatural
OVERDOSE
NU VERMELHO
retesar as cores
e os músculos
com os dedos agarrados no pincel
se faltar carne
para roçar os óvulos
a gente jorra tinta no papel
BR – 101
ah! meu amor
não te esqueci
ainda procriando no meu corpo
os micróbios do teu sangue
enlouqueci
GENITAL
pasto no cosmo
a soja secular de jardinópolis
onde os discos-voadores
sobrevoam meu nariz
na cara das metrópoles
no centro ao sul
os cemitérios
possuem mais mistérios
que a nossa vã filosofia
tem um animal de vagina espacial
na poesia
&
e um
grande pênis roxo
milenar
feito
aspiral em círculo
preparando imenso orgasmo
pra festejar o fim do século
Artur
Gomes
www.fulinaimagens.blogspot.com
ainda que fosse só saudade ou essa jura secreta não fosse mais nada mesmo assim nessa madrugada pensei o quanto ainda queria e não fizemos...