furo
o que te perfura?
uma broca
uma bala
uma faca
uma britadeira
uma falta
um insulto?
um poema
uma
metáfora
te
per
fu
ra
?
Yara Fers
In O Peito Perfurado da Terra
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Mostra Visual De Poesia Brasileira
Experi/mentalismo
recluso na estação 353 uso tempo para exorcizar o mal secreto uilcon pereira me ensinou as sample/ações nas sagradas escriduras de jommard muniz de britto um grito joaqum branco em sua zona de conflito:
“gigantes medonhos / arrastando a noite / clarenigma / pássaros de sonhos / aparando os olhos / negrenigma”
genocidas no congresso aprovam leis para liberação de agrotóxicos e a gente se ferra Yara Fers e seu peito perfurado da terra:
“enfio as mãos na terra
para escrever o poema
e as mãos não estão
sujas
remexo o barro
as pedras
sinto os grãos
enfiados nas unhas
em simbiose
e minhas mãos
não se sujam
é a terra que está
suja de mãos”
adeus sementes de abóbora in-natura que mastigo para aliviar a profilaxia prostática nesse tempo estático nada do que penso da estética sobre a ética passeia entre meus olhos soturnos guima meu mestre guima em mil perdões eu te peço o poema pode ser um beijo em tua boca por quê trancar as portas tentar proibir as entradas ? te beijo vestida de nua comigo ninguém pode espada de são jorge ogum de cia sputinik no quintal alegria a prova dos nove do meu cão experimental sei por onde vou não faço parte do outro lado da parte dessa escória que enferruja a história que passou nem do diabo a quatro quando muito cito Oswald e também cito Torquato neto do meu pai se chama Dedé meu afilhado em Deus eu tenho fé um dente de alho sobre a mesa Carlos Gurgel viajou de Natal pra Fortaleza antes do amanhecer um girassol riscado a giz o dia ainda vai raiar um poema ainda vai nascer no vai e vem dos seus quadris Cazuza pra desvendar na atual constituição qual é o nome da meretriz o homem com a flor na boca ainda desfolha a bandeira com sua língua de trapo no pantanal desse país.
Artur Gomes
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O Homem Com A Flor Na Boca
não tenho certeza
da beleza que me segue
à beira da BR-040
desde que Tranca Rua
abriu a minha estrada
para o SerTão da Bahia
Artur Gomes
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certa vez a beleza se chamava Manhuaçu era pura alegria
à beira da BR-040 de Minas
indo pra Bahia
Artur Gomes
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poema 10
meus caninos
já foram místicos
simbolistas
sócio políticos
sensuais eróticos
mordendo alguma história
agora estão famintos
cravados na memória
Artur Gomes
O Homem Com A Flor Na Boca
Editora Penalux – 2023
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tem pessoas que ainda gostam de fantasias ilusões ideias que não cultivo mais a pedra pólen inda me guia quando admiro céus sóis estrelas luas cheias vez em quando pedalo até a praia a procura de ouvir o canto da seria à beira mar yemanjá e continuo caminhando nesse chão que nos espera poesia além da morte bem pra lá dos girassóis para encontrar nas pradarias a orelha de van gog e seu instante em desespero não espero muito como alguém que do outro lado do oceano me espera
Artur Gomes
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Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim
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O Homem Com A Flor Na Boca
O ator, produtor, videomaker e agitador cultural Artur Gomes acumula uma bagagem de 50 anos de carreira com prêmios nacionais e internacionais em teatro, música, literatura e artes gráficas. Gomes poderia se filiar na tradição literária dos chamados poetas malditos, como comumente e simplistamente nos referimos àqueles autores que constroem uma obra “rebelde” em face do que é aceito pela sociedade, vista como meio alienante que aprisiona os indivíduos em normas e regras. Tais autores rejeitam explicitamente regras e cânones. Rejeição que manifesta-se também, com a recusa em pertencer a qualquer ideologia instituída. A desobediência, enquanto conceito moral exemplificado no mito de Antígona é uma das características de tais sensibilidades poéticas, que no Brasil já vem de longe com um Gregório de Mattos e ganhou impulso e seguidores com o famoso trio da “parafernália” rebelde: Verlaine, Baudelaire e Rimbaud.
Já tivemos oportunidade de observar em outras obras do autor, que suas construções poéticas seguem sempre renovadas para cima em matéria de criatividade, elencando uma variada diversidade temática que aborda, sempre em perspectiva ousada e radical, desde o doce e suave sentido do amor, ao cruel da relação amorosa, flertando com o libidinoso, e questões existenciais que expressam indignação, desobediência e transgressão.
É que, explica ele: “arde em mim / um rio / de palavras / corpo lavas erupção / mar de fogo / vulcão”. Outra faceta do autor, digna de nota, é a criação de vários heterônimos como sejam Federico Baudelaire, EuGênio Mallarmè ou Gigi Mocidade, talvez a mais irreverente de todos, porque fala a bandeiras despregadas, sem papas na língua. “Muitas vezes a língua pulsa pula para o outro lado do muro outras vezes a língua pira punk nesses tempos obscuros às vezes a língua Dada vai rolando dados nesse jogo duro muitas vezes a língua dark jorra luz nas trevas desse templo escuro”.
E aqui temos afinal, mais uma obra desse múltiplo e incansável poeta que caminha com uma flor na boca, símbolo universal de amor, de paz e beleza. A ele não importa verdadeiramente por quais meios: “se sou torto não importa / em cada porta risco um ponto / pra revelar os meus destroços / no alfabeto do desterro / a carnadura dos meus ossos”.
É poética que, para além de perquirir as dores e delícias da condição humana em si, envereda pelo viés de nossa condição social sempre ultrajada. Encontramos um poema que nos pergunta: “quem se alimenta / dessa dor / desse horror / desse holocausto // desse país em ruínas / da exploração dessas minas / defloração desse cabaço // quem avaliza o des(governo / simboliza esse fracasso?”
Artur Gomes segue sua árdua caminhada, agora com o poderoso concurso da maturidade que lhe chega. Segue emprestando sua voz aos deserdados, aos desnutridos, aos que têm sede, aos que têm fome, ou aos que morrem assassinados nos guetos, nos campos, nas cidades por balas de fuzil, desse país que tarda em referendar a cidadania.
Krishnamurti Góes dos Anjos - Escritor e crítico literário
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feitiçarias de Artur Gomes - por Michèle Sato
Difícil iniciar um prefácio para abordar feitiçarias de um grande mestre. A mágica aparição do texto transborda sentidos cósmicos, como se um feixe de luz penetrasse em um túnel escuro dando-lhe o sorver da vida. Diariamente, recebo um deserto imenso de poemas e a leitura se esvai com “batatinha quando nasce põe a mão no coração”. Um ou outro me chama a atenção, desde que sou do chamado “mundo das ciências” e leio poemas com coração, mas inevitavelmente aguçado pelo olhar crítico vindo do cérebro.
A academia pode ser engessada, mas é, sobremaneira, exigente. Aplaude o inédito, reconhecendo que o poema é um caos antes de ser exteriorizado, mas harmônico, quando enfeitiçado. A leitura requer algo como canto do vento, que não seja fugaz, mas que acaricie no assopro da Terra. Por isso, é com satisfação que inicio este pequeno texto, sem nenhuma pretensão de esgotar o talento do grande mestre, mas responder aos poemas de Artur que brilham, soltam faíscas, incendeiam-se em erotismo e garras enigmáticas. Ele transcende regras, inventa palavras, enlouquece verbos. E as relações estabelecidas revelam a desordem dos sonhos na concretude harmônica de suas palavras.
A aventura erótica não se despede de seu olhar político. Situado fenomenologicamente no mundo, e transverso nele, Artur profana o sagrado com suas invenções transgressoras. Reinventa a magia e decreta uma nova vida para que o mundo não seja habitado somente pelos imbecis. Dança no universo, com a palavra fluída, imprevistos pitorescos, mordidas e grunhidos. Reaparece no meio de um cacto espinhoso, mas é absurdamente capaz de ofertar a beleza da flor. Contemporâneo e primitivo se aliam, vencem os abismos como se ao comerem as palavras monótonas, pudessem renascer por meio da antropofagia infinita de barulhos e silêncios. O sangue coagulado jorra, as cavernas se dissolvem e é provável que poucos compreendam a beleza que daí se origina.
Nos labirintos de suas palavras, resplandece o guerreiro devorador, embriagado, quase descendo ao seu próprio inferno. Emana seu fogo, na ardência de sexo e simultaneamente na carícia do amor. Pedras frias se aquecem, coram com o tom devasso que colore a mais bela das pornofonias. Marquês de Sade sente inveja por não ser o único déspota das palavras sensuais. E os poemas de Artur reflorescem, exalam odor como desejos secretos e risos que ecoam no infinito.
não fosse essa alga queimando em tua coxa ou se fosse e já soubesse mar o nome do teu macho o amor em ti consumiria (jura secreta 5)
De repente um cavalo selvagem cavalga na relva úmida, como se o orvalho da manhã pudesse revelar o fogo roubado das pinturas rupestres. Ao som de tambores, suas palavras se tornam arte em si, como se fossem desenhos projetados em um fantástico mundo vertiginoso. Seres encantados surgem das águas originários de sentimento, abraçadas nas pedras lisas, rugosas, esverdeadas da terra. O fogo dança em vulcões e a metamorfose é percebida em seus ares. Os elementos se definem como bestas, humanos, ou segmentos da natureza como uma orquestra sinfônica que vai além da sonoridade. Adentram sentidos polissêmicos e, neste momento, até o André Breton percebe o significado das palavras de Artur, pois a beleza é convulsiva e crava no peito feito cicatriz.
e o que não soubesse do que foi escrito está cravado em nós como cicatriz no corte (jura secreta 10)
Da violação do limite, do fruto proibido ou da linguagem erótica, os poemas de Artur são orgasmos literários que oscilam entre o sacro e o profano. Sua cultura, visão de mundo e inteligência possibilitam ir além da pura emoção sentimental, evocando a liberdade para que a terra asfixiada grite pela esperança. Artur comunga com outros seres a solidariedade da Terra, ainda que por vezes, seja devastador em denunciar disparidades, mas é habilidoso em anunciar acalentos. A palavra poética desfruta fronteiras, e Roland Barthes diria que a história de Artur é o seu tributo apaixonado que ele presta ao mundo para com ele se conciliar. Em sua linguagem explosiva, provavelmente está a intensidade de sua paixão - um amor perverso o suficiente para viciar em suas palavras, mas delicado o bastante para dar gênese ao mundo enfeitiçado pela habilidade de sua linguagem.
A essência deste perfume parece estar refletida num espelho, pois se as linguagens podem incluir também o silêncio, as palavras de Artur soam como uma melodia. Projetada numa tela, a pintura erótica torna-se sublime e para além de escrevê-las, ele vive suas linguagens. Esta talvez seja a diferença de Artur com tantos outros poetas: a sua capacidade de transcender a tradição medíocre para viver um intenso de mistério de sua poética. Ele não duvida de suas palavras, nem as censura para não quebrar seu encanto, mas devora em seu ser na imaginação e no poder de sua criação. Criador e criatura se misturam, zombam da vida, gargalham da obviedade. Põem-se em movimento na dança estrelas que iluminam a palavra.
Os fragmentos poéticos são misteriosos de propósito, uma cortina mal fechada assinala que o palco pode ser visto, porém não em sua totalidade. Disso resulta a sedução para que ele continue escrevendo, numa manifestação enigmática do poder surrealista em nos alertar sobre nossas incompletudes fenomenológicas. O imperfeito é o sentido da fascinação, diria Barthes em seus fragmentos de um discurso amoroso. E a poética de Artur não representa ressurreição, nem logro, senão nossos desejos. O prazer do texto pode revelar o prazer do autor, mas não necessariamente do leitor.
E a sua liberdade projeta-se num horizonte onde a dimensão sócio-ambiental é freqüentemente presente. É uma poesia universal de representações urbanas e rurais, de flora, fauna e fontes de praças públicas. Desacralizando o “normal previsível”, borda em sua costura de mosaicos, esquinas e passaredos.
A poética das Juras Secretas opõem-se a instância pretérita numa espiral de presente com futuro. Metafisicamente, desliga-se do momento agonizante e os olhos do poeta não se cansam, ainda que a paisagem queira cansá-los. Seu toque lembra o neoconcretismo, por vezes, cuja aparição na semana da arte moderna mexeu com os mais tradicionais versos da literatura ordinária. Mas sua temporalidade vence Chronos, na denúncia de um calendário tirano ao anúncio de Kairós, também senhor do tempo, mas que media pelos ritmos do coração.
20 horas 20 noites 20 anos 20 dias até quando esperaria... até quando alguém percebesse que mesmo matando o amor o amor não morreria. (jura secreta 51)
É óbvio que a materialidade da linguagem, sua prosódia e seu léxico se mantêm no texto. Mas foge das estruturas engessadas do arrombo repetitivo, florescendo em neologismos verossímeis e ritmos cardíacos. Amiúde, são palavras jorradas em potente cultura significante. No chão dialogante, este poeta desestabiliza a normalidade com suas criações.
ARTUR GOMES é, para mim, um grande relato de seu próprio devir, que sabe poetizar a partir de seu vivido. E por isso, enfeitiça.
Michèle Sato – Bióloga, pesquisadora na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.
*
Jura Secreta
não fosse essa jura secreta
mesmo se fosse e eu não falasse
com esse punhal de prata
o sal sob o teu vestido
o sangue no fluxo sagrado
sem nenhum segredo
esse relógio apontado pra lua
não fosse essa jura secreta
mesmo se fosse eu não dissesse
essa ostra no mar das tuas pernas
como um conto do Marquês de Sade
no silêncio logo depois do susto
Jura secreta 1
a língua escava entre os dentes
a palavra nova
fulinaimânica/sagarínica
algumas vezes muito prosa
outras vezes muito cínica
tudo o que quero conhecer:
a pele do teu nome
a segunda pele o sobrenome
no que posso no que quero
a pele em flor a flor da pele
a palavra dandi em corpo nua
a língua em fogo a língua crua
a língua nova a língua lua
fulinaímica/sagaranagem
palavra texto palavra imagem
quando no céu da tua boca
a língua viva se transmuta na viagem
não fosse esse punhal de prata
mesmo se fosse e eu não quisesse
o sangue sob o teu vestido
o sal no fluxo sagrado
sem qualquer segredo
esse rio das ostras
entre tuas pernas
o beijo no instante trágico
a língua sem que ninguém soubesse
no silêncio como susto mágico
e esse relógio sádico
como um Marquês de Sade
quando é primavera
fosse essa jura sagrada
como uma boda de sangue
às 5 horas da tarde
a cara triste da morte
faca de dois gumes
naquela nova granada
e Federico Garcia Lorca
naquela noite de Espanha
não escrevesse mais nada
Jura secreta 5
não fosse essa alga
queimando em tua coxa
ou se fosse e já soubesse
mar o nome do teu macho
o amor em ti consumiria
Olga Savary
no sumidouro dos meus dias
o couro cru
na antropofágica erótica
carne viva
tua paixão em mim
voraz língua nativa
o que passou não ficará já foi
a menina dos meus olhos
roubou a tua menina
e levou para festa do boi
fosse um Salgado Maranhão
nosso batismo de fogo
25 de março
e o morro querosene em chamas
no canto pro tempo nascer
e o amor que a gente faria
o sol acabou de fazer
Jura secreta 7
fosse Sampa uma cidade
ou se não fosse não importa
essa cidade me transporta
me transborda me alucina
me invade inter/fere na retina
com sua cruel beleza
como Oswald de Andrade
e sua realidade
como Mário de Andrade
e sua delicadeza
Jura Secreta 8
artefato (poema sujo)
numa cidade abstrata
sem sentido ou significado
matadouro é arte concreta
veracidade é pecado
pago com pena de morte
esta máquina de escrever
fotografada em Itaguara
como um poema de Lorca
escrito em Nova Granada
cravado em Araraquara
você não sabe onde está
você não sabe onde é
você não sabe de quem foi
este punhal na metáfora
que sangra a carne do boi
Jura secreta 9
não fosse o teu amor
o meu conforto
e eu teu anjo torto
meu amor como seria
se a jura secreta
não fosse mais que um poema
e se eu não te amasse
como Glauber no cinema
o que tenho aqui
no corpo em transe
:
a quem daria?
Jura secreta 10
fosse o que eu quisesse
apenas um beijo
roubado em tua boca
dentro do poema nada cabe
nem o que sei
nem o que não se sabe
e o que não soubesse
do que foi escrito
está cravado em nós
como cicatriz no corte
entre uma palavra e outra
do que não dissesse
a palavra chave
da palavra a imagem xis
tudo por um risco
tudo por um triz
o trem bala (cospe esqueletos
no depósito da Central)
fuzil pode ser nosso brinquedo:
para o próximo carnaval
Jura secreta 12
Sargaço em tua boca espuma
em Armação de Búzios
tenho um amor sagrado
guardado como jura secreta
que ainda não fiz para Laís
em teus cabelos girassóis de estrelas
que de tanto vê-las o meu olho vela
e o que tanto diz onda do mar não leva
da areia da praia onde grafei teu nome
para matar a sede e muito mais a fome
entranhada na carne como flor de Lótus
grudada na pele como tatuagem
flutuando ao vento como leve pluma
no salgado corpo do além mar afora
sargaço em tua boca espuma
onde moram peixes - na cumplicidade
do que escrevo agora
Jura secreta 13
o tecido do amor já esgarçamos
em quantos outubros nos gozamos
agora que palavro Itaocaras
e persigo outras ilhas
na carne crua do teu corpo
amanheço alfabeto grafitemas
quantas marés endoidecemos
e aramaico permaneço doido e lírico
em tudo mais que me negasse
flor de lótus flor de cactos flor de lírios
ou mesmo sexo sendo flor ou faca fosse
Hilda Hilst quando então se me amasse
ardendo em nós salgado mar e Olga risse
pulsando em nós flechas de fogo se existisse
por onde quer que eu te cantasse ou Amavisse
eu te desejo flores lírios brancos
margaridas girassóis rosas vermelhas
e tudo quanto pétala
asas estrelas borboletas
alecrim bem-me-quer e alfazema
eu te desejo emblema
deste poema desvairado
com teu cheiro teu perfume
teu sabor teu suor tua doçura
e na mais santa loucura
declarar-te amor até os ossos
eu te desejo e posso :
palavrArte até a morte
Jura secreta 15
leminskiAna
o estado pode ser de choque
ou quem sabe até de surto
o soco pode ser no estômago
a facada pra ferir o fígado
o bandido me assaltar na via
o sangue explodir na veia
a vodka só me dar azia
todo instante que vier eu curto
a palavra que pintar eu furto
tudo o que eu faço é poesia
para may pasquetti
fosse esta menina Monalisa
ou se não fosse apenas brisa
diante da menina dos meus olhos
com esse mar azul nos olhos teus
não sei se MichelÂngelo
Da Vinci Dalí ou Portinari
te anteviram
no instante maior da criação
pintura de um arquiteto grego
quem sabe até filha de Zeus
e eu Narciso amante dos espelhos
procuro um espelho em minha face
para ver se os teus olhos
já estão dentro dos meus
Jura secreta 17
meu objeto concreto
é um poema abstrato
impressionista realista
quem sabe neo concretista
poderoso artefato
uma bomba de Hiroshima
uma rosa parafina
ou quem sabe uma menina
que conheci só no retrato
Jura secreta 18
te beijo vestida de nua somente a lua te espelha nesta lagoa vermelha porto alegre caís do porto barcos navios no teu corpo os peixes brincam no teu cio nus teus seios minhas mãos as rendas finas que vestias sobre os teus pelos ficção todos os laços dos tecidos aquela cor do teu vestido a pura pele agora é roupa o sabor da tua língua o batom da tua boca tudo antes só promessa agora hóstia entre os meus dentes e para espanto dos decentes te levo ao ato consagrado se te despir for só pecado
é só pecar que me interessa
Jura secreta 19
quero dizer que ainda arde
tua manhã em minha tarde
a tua noite no meu dia
tudo em nós que já foi feito
com prazer ainda faria
quero dizer que ainda é cedo
ainda tenho um samba/enredo
tudo em nós é carnaval
é só vestir a fantasia
quero ser teu mestre sala
e você porta/bandeira
quando chegar na quarta feira
a gente inventa outra fulia
Jura secreta 20
não fosse o amor essa faca de dois gumes e o tempo que chove na janela
entre os meus e os olhos dela alguma face no espelho e o sangue escorrendo pelas veias atiçando unhas e músculos
não fosse uma lâmina acesa entre os corredores do corpo quando a carne é brasa e as paredes dessa casa não separassem mais nada quando os pulsos saltam das portas para os porões do mais íntimo não fosse essa lâmpada esse cálice esse líquido pela boca tenso quando entro pelo teu quarto com tudo aquilo que penso
Ana quando a vida não for sacana
a gente engendra a Sagarana
e inventra a SagaraNAgem
não te preocupes Luisa
com o elo dessa engrenagem
com a direção do vento norte
ou se vem do sul esta brisa
se embaixo em tua camisa
palpitam dois seios fortes
que minhas mãos roçam em cheio
nas cenas que escrevi
e transcrevi por e-mails
os sonhos que prometeu
mas que agora não são teus
eles ficaram por aqui
Jura secreta 22
entre/dentes3
olhei para cara do tempo
ela estava fechada
não me dizia nada
pensei as SagaraNAgens
que o tempo fazia comigo
peguei do tempo o umbigo
cortei na ponta da faca
e a tua cara de vaca
sangrei sem nenhum remorso
porque isso o tempo não tem
agora o tempo sorri
me mostra os dentes da boca
e a tua cara de louca
é a minha cara também
a lavra da pa/lavra quero
1
quando for pluma
mesmo sendo espora
felicidade uma palavra
onde a lavra explora
se é saudade dói mas não demora
e sendo fauna linda como a Flora
lua Luanda vem não vá embora
se for poema fogo do desejo
quando for beijo que seja como agora
2
a lavra da palavra quero
seja pele pluma
onde Mayara bruma
já me diz espero
saliva na palavra espuma
onde tua lavra é uma
elétrica pulsação de Eros
a dança do teu corpo vero
onde tu alma luna
e o meu corpo empluma
Jura secreta 24
Cezane não pintava flores
montado em seu cavalo alado
despeja cores
no corpo da mulher amada
com os pincéis
encravados entre as coxas
transformou Hollandas
em quintais de vento
reINventou o tempo
na hora de pintar
Jura secreta 25
Mar de Búzios
vasa sob meus pés um Rio das Ostras
as minhas mãos em conchas
passeiam o mangue dos teus seios
e provocam o fluxo do teu sangue
os caranguejos olham admirados
a volúpia dos teus cios
quando me entregas o que traz
por entre as praias
e permites desatar
todos os nós do teu umbigo
transbordando mar de búzios
oceanos - Atlântico pulsar entre dois corpos
que se descobrem peixes -
e mergulham profundezas
qualquer que seja a hora
em que se beijam num pontal
em comunhão total com a natureza
Jura secreta 26
eu sou Drummundo
e me confundo na matéria amorosa
posso estar na fina flor da juventude
ou atitude de uma rima primorosa
e até na pele/pedra
quando me invoco
e me desbundo baratino
e então provoco
um barafundo Cabralino
e meto letra no meu verso
estando prosa
e vou pro fundo
do mais fundo
o mais profundo
mineral Guimarães Rosa
Jura secreta 27
rio em pele feminina
o rio com seus mistérios molha meu cio em silêncio desejo o que nos separa a boca em quantos minutos as flores soltas na fala o pó dos ossos dos anos você me diz não ter pressa seus olhos fogo na sala o beijo um lance de dados
cuidado cuidado cuidado que sou um anjo de fadas não beije assim meus segredos
esta palavra apavora o beijo dado mais cedo quebra meu ser no espelho meu cerne é carne de vidro na profissão dos enredos quanto mais água me sinto
presa ao lençol dos seus dedos o rio retrata meu centro na solidão de mim mesma segundo a segundo nas águas
lá onde o sol é vazante
lá onde a lua é enchente
lá onde o rio é estrada
onde coloca seus versos
me encontro peixe e mais nada
Jura secreta 28
Artur Fulinaíma
teve suas contas
banidas do facebook
acusado de tentar
contra a segurança
do sistema
com seus poemas
indiscretos
mas por ser teimoso
resistente
concreto
vai permanecer aqui
profano
indecente
erótico
ereto
Jura secreta 29
esfinge
o amor não é apenas um nome que anda por sobre a pele um dia falo letra por letra no outro calo fome por fome é que a pele do teu nome consome a flor da minha pele cravado espinho na chaga como marca cicatriz eu sou ator ela esfinge: Clarice/Beatriz:
assim vivemos cantando fingindo que somos decentes para esconder o sagrado em nossos profanos segredos
se um dia falta coragem a noite sobra do medo é que na sombra da tatuagem sinal enfim permanente ficou pregando uma peça em nosso passado presente
o nome tem seus mistérios que
se escondem sob panos o sol é claro quando não chove o sal é bom quando de leve para adoçar desenganos na língua na boca na neve o mar que vai e vem não tem volta o amor é a coisa mais torta que mora lá dentro de mim
teu céu da boca é a porta onde o poema não tem fim
Jura secreta 30
afora em mim grafitemas
nenhuma figuralidade
frutas legumes verduras
quem cala a fala consente
houve um tempo que a dita/dura
calou a fala da gente
grafito em tua carne de pedra
medusa de sete patas
poema de sete cabeças
miragens do amor que enlouqueça
apóstolos na santa ceia
Miró brincando de circo
com os olhos na lua cheia
Jura Secreta 31
de Dante a Chico Buarque todos os poetas já cantaram suas musas Beatriz são muitas Beatriz são quantas Beatriz são todas Beatriz são tantas algumas delas na certa também já foram cantadas por este poeta insano e torto pra lhes trazer o desconforto do amor quando bandido Beatriz são nomes
mas este de quem vos falo não revelo o sobrenome está no filme sagrado
na pele do acetato na memória do retrato Beatriz no último ato
da Divina Comédia Humana
quando deita em minha cama
e come do fruto proibido
Jura Secreta 32
fosse apenas o que já foi dito
escrito falado pensado
não fosse tudo o que já foi maldito
e nada do que nunca foi sagrado
falo em tua boca enquanto em transe
um anjo me ilumina tanto
que mesmo mudo em tua língua canto
como um diabo que subindo aos céus
tentou muito mais de uma vez
quem sabe Gregório ou quem sabe Castro
descendo aos infernos como sempre fez
talvez Camões no corpo de um astro
me lance a infinita chama da pornô Gráfica lucidez
Jura Secreta 33
o poema pode ser um beijo em tua boca carne de maçã em maio um tiro oculto sob o céu aberto estrelas de néon em Vênus refletindo pregos no meu peito em cruz na Paulista Consolação na Água Branca Barra Funda metal de prata desta lua que me inunda num beijo sujo com uma Estação da Luz nos vídeos.filmes de TV eu quero um clipe nos teus seios quentes uma cilada em tuas coxas japa
como uma flecha em tuas costas índia
ninja gueixa eu quero a rota teu país ou mapa teu território devastar inteiro
como uma vela ao mar de fevereiro
molhar teu cio e me esquecer na Lapa
por que te amo
e amor não tem pele
nome ou sobrenome
não adianta chamar
que ele não vem quando se quer
porque tem seus próprios códigos
e segredos
mas não tenha medo
pode sangrar pode doer
e ferir fundo
mas é razão de estar no mundo
nem que seja por segundo
por um beijo mesmo breve
por que te amo
no sol no sal no mar na neve
Jura Secreta 35
pontal.foto.grafia
Aqui, redes em pânico pescam esqueletos no mar - esquadras - descobrimento espinhas de peixe convento - cabrálias esperas relento -
escamas secas no prato e um cheiro podre no AR
caranguejos explodem mangues em pólvora Ovo de Colombo quebrado areia branca inferno livre Rimbaud - África virgem carne na cruz dos escombros trapos balançam varais
telhados bóiam nas ondas tijolos afundando náufragos último suspiro da bomba na boca incerta da barra esgoto fétido do mundo grafando lentes na marra imagens daqui saqueadas Jerusalém pagã visitada
- Atafona.Pontal.Grussaí -
as crianças são testemunhas:
Jesus Cristo não passou por aqui
Miles Davis fisgou na agulha Oscar no foco de palha cobra de vidro sangue na fagulha carne de peixe maracangalha
que mar eu bebo na telha que a minha língua não tralha? penúltima dose de pólvora palmeira subindo a maralha
punhal trincheira na trilha cortando o pano a navalha - fatal daqui Pernambuco Atafona.Pontal. Grussaí -
as crianças são testemunhas :
Mallarmé passou por aqui.
bebo teu fato em fogo punhal na ova do bar palhoças ao sol fevereiro aluga-se teu brejo no mar o preço nem Deus nem sabre sementes de bagre no porto a porca no sujo quintal plástico de lixo nos mangues que mar eu bebo afinal?
Jura Secreta 36
cardio.grafia da pele
que esta palavra bendita
nãos seja dor quando mal dita
como espinha quando aflora
ou espora enquanto irrita
minha cardio.grafia em suma
não é pena nem pluma
apenas palavra que resuma
o silêncio como agora
ou sonora enquanto grita
Jura Secreta 37
baby é cadelinha
devemos não ter pressa a lâmina acesa sob o esterco de Vênus onde me perco mais me encontro menos de tudo o que não sei só fere mais quem menos sabe sabre de mim baioneta estética cortando os versos do teu descalabro
visto uma vaca triste como a tua cara
estrela cão gatilho morro: a poesia é o salto de um vara disse-me uma vez só quem não me disse ferve o olho do tigre enquanto plasma letal a veia no líquido do além cavalo máquina meu coração quando engatilho
devemos não ter pressa a lâmina acesa sob os demônios de Eros onde minto mais porque não veros fisto uma festa mais que tua vera cadela pão meu filho forro: a poesia é o auto de uma fera
devemos não ter pressa a lâmina acesa sob os panos quem incesta ? perfume o odor final do melodrama sobras de mim papel e resma impressão letal dos meus dedos imprensados misto uma merda amais que tua garra
panela estrada grão socorro:
a poesia é o fausto de uma farra
ind/gesta
uma caneta
pelo amor de deus
uma máquina de escrever
uma câmera por favor
quero um computador
nem que seja pós moderno
vamos fazer um filme
vamos criar um filho
deixa eu amar a lídia
que a mediocridade
desta idade mídia
não coca cola mais
nem aqui nem no inferno
Jura Secreta 38
travessia
de Almada vou de atravessar o Tejo
barco à vela Portugal afora
em Lisboa vou compor um fado
e cantar no Porto feito um blues
rasgado de amor pela senhora
que me espera em paz
e todo vinho que eu beber agora
será como beijo que eu guardei inteiro
como um marinheiro que retorna ao cais
transPiração ANTROPO / fágica
por onde quer que eu te cantasse
devorasse amasse ou comesse
não bastaria o poema
por onde então começasse
Jura Secreta que fosse
palavra indiscreta escrevesse
meus dentes em teu corpo deixasse
a língua onde quer que lambesse
não bastariam meus dedos em riste
lavrando a carne onde berras
se queimas no inferno de Dante
e não sabes ver que o amante
é o SER transPirado da Terra
Jura Secreta 40
moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como o beijo no teu corpo agora
desejo-te pelo menos enquanto resta
partícula mínima micro solar floresta
sendo animal da Mata Atlântica
quântico amor ou meta física
tudo o que em mim não há respostas
metáfora D´alquimim fugaz Brazílica
beijo-te a carne que te cobre os ossos
pele por pele sobre tuas costas
os bichos amam em comunhão na mata
como se fosse aquela hora exata
em que despes de mim o ser humano
do corpo rasgamos todo pano
e como um deus pagão pensamos sexo.
Jura Secreta 41
Goytacá Boy - musicado e cantado por Naiman no CD fulinaíma sax blues poesia 2002
ando por São Paulo meio Araraquara
a pele índia do meu corpo concha de sangue em tua veia sangrada ao sol na carne clara - juntei meu goytacá teu guarani - tupy or not tupy não foi a língua que ouvi em tua boca caiçara
para falar para lamber para lembrar
da sua língua arco íris litoral como colar de uiara é que eu choro como a chuva curuminha mineral da mais profunda lágrima que mãe chorara
para roçar para provar para tocar
na sua pele urucum de carne e osso
a minha língua tara sonha cumer do teu almoço e ainda como um doido curuminha a lamber o chão que restou da Guanabara
Jura Secreta 42
1
xangô é parte da pedra
exu fagulha de ferro
ogum espada de aço
faz do meu colo teus braços
oxossi é carne da mata
yansã é fogo vento tempestade
yemanjá água do mar
oxum é água doce
oxalá em ti me trouxe
te canto como se fosse u
m novo deus em liberdade
2
sou teu leão de fogo
todo jogo que me propor eu topo
beber teu copo comer da tua comida
encarar de frente
a janela de entrada
e se for preciso a porta de saída
Jura Secreta 43
veraCidade
por quê trancar as portas tentar proibir as entradas se já habito os teus cinco sentidos e as janelas estão escancaradas ? um beija flor risca no espaço algumas letras de um alfabeto grego signo de comunicação indecifrável eu tenho fome de terra
e esse asfalto sob a sola dos meus pés
agulha nos meus dedos - quando piso na Augusta o poema dá um tapa na cara da Paulista flutuar na zona do perigo entre o real e o imaginário João Guimarães Rosa Caio Prado Martins Fontes um bacanal de ruas tortas eu não sou flor que se cheire nem mofo de língua morta - o correto deixei na Cacomanga matagal onde nasci com os seus dentes de concreto São Paulo é quem me devora e selvagem devolvo a dentada na carne da rua Aurora
Jura Secreta 44
eu sou o outro que habita
dentro do meu outro eu
não a casca da cápsula
da carcaça aqui de fora
o que se vê no espelho
é só miragem
- Narciso mergulhado
à própria sombra -
o cavalo
na folhagem esse sim
é o que se vê na tela
quando a câmera revela
o concreto da outra pessoa
que não sou
Jura Secreta 45
fulinaimagem
por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e minha língua fosse
só furor dos Canibais
e essa lua mansa fosse faca
a afiar os versos que inda não fiz
e as brigas de amor que nunca quis mesmo quando o projeto aponta
outra direção embaixo do nariz
e é mais concreto
que a argamassa do abstrato
por enquanto vou te amar assim admirando teu retrato
pensando a minha idade
e o que trago da cidade
embaixo as solas dos sapatos
o que trago
embaixo as solas dos sapatos é fato
bagana acesa sobra do cigarro
é sarro
dentro do carro ainda ouço
Jimmi Hendrix quando quero
dancei bolero
sampleAndo rock and roll
pra colher lírios
há que se por o pé na lama
a seda pura foto síntese do papel
tem Flor de Lótus nos bordéis Copacabana
procuro um mix da guitarra de Santanna
com os espinhos da Rosa de Noel
Jura Secreta 46
bolero blue
beber desse conhac em tua boca
para matar a febre
nas entranhas entre/dentes
indecente é uma forma que te como
bebo ou calo
e se não falo quando quero
na balada ou no bolero
não é por falta de desejo
é que a fome desse beijo
furta outra qualquer palavra presa
como caça indefesa
dentro da carne que não sai
Jura Secreta 47
a face oculta da maçã
duas partes que se abrem pêssego
campo de girassóis teus pelos
alvoroçados sob o sol de Amsterdã
enquanto isso
em teus mamilos penso
o que ainda não comi desta maçã
Jura Secreta 48
sagarínica fulinaimânica
não sou iluminista nem pretender
eu quero o cravo e a rosa cumer o verso e a prosa devorar a lírica a métrica
a carne da musa seja branca negra
vermelha verde amarela ou cafuza
eu sou do mato curupira carrapato
sou da febre sou dos ossos sou da Lira do Delírio São Virgílio é o meu sócio
Pernambuco Amaralina vida breve ou sempre vida/severina sendo mulher ou só menina que sendo santa prostituta
ou cafetina devorar é minha sina
e profanar é o meu negócio
Jura Secreta 49
para Márcio Vaccari
te procurei na Ipiranga
não te encontrei na Tiradentes
nas tuas tralhas tuas trilhas
nos trilhos tortos do Braz
fotografei os destroços
na íris do satanás
a cara triste da Mooca
a vaca morta no trem
beleza no caos: urbana
beleza é isso também
meu bem ainda mora distante
deste bordel carNAvalho
a droga a erva o bagulho
Tietê um tonto espantalho
Jura Secreta 50
entri / dentes
queimando em Mar de Fogo
me Registro
lá no fundo do teu íntimo
bem no branco do meu nervo
brota uma onde de sal e líquido
procurando a porta do teu cais
teu nome já estava cravado
nos meus dentes
desde quando Sísifo olhava no espelho
primeiro como Mar de Fogo
registro vivo das primeiras Eras
segundo como Flor de Lótus
cravado na pele da flor primavera
logo depois gravidez e parto
permitindo o Logus
quando o amor quisera
Jura Secreta 51
fosse quântico esse dia
calmo claro intenso inteiro
20 de fevereiro
sendo assim esperaria
mesmo que em meio a tarde
TROVOADAS tempestades
insanidades guerras frias
iniqüidade
angústia
agonia
mesmo assim esperaria
20 horas
20 noites
20 anos
20 dias
até quando esperaria?
até que alguém percebesse
que mesmo matando o amor
o amor não morreria
Jura Secreta 52
injúria secreta
Suassuna no teu corpo couro de cor Compadecida Ariano sábio e louco
inaugura em mim a vida
Pedra do Reino no riacho
gumes de atalhos na pedreira
menina dos brincos de pérola
pétala na mola do moinho
palavra acesa na fogueira
pós os ismos tudo e pós
na pele ou nas aranhas
na carne ou nos lençóis
no palco ou no cinema
a palavra que procuro
é clara quando não é gema
até furar os meus olhos
com alguma cascata de luz
devassa em mim quando transcende
lamparina que acende e transforma em mel o que antes era pus
Jura Secreta 53
sagaraNAgens fulinaímicas
guima meu mestre guima
em mil perdões eu vos peço
por esta obra encarnada
na carne cabra da peste
da Hygia Ferreira bem casta
aqui nas bandas do leste
a fome de carne é madrasta
ave palavra profana
cabala que vos fazia
veredas em mais Sagaranas
a Morte em Vidas/Severinas
tal qual antropofagia
teu grande Sertão vou cumer
nem João Cabral Severino nem Virgulino de matraca nem meu padrinho de pia me ensinou usar faca
ou da palavra o fazer a ferramenta que afino roubei do mestre Drummundo
que o diabo GiraMundo é o Narciso do meu Ser
Jura Secreta 54
nossas palavras escorrem
pelo escorrer dos anos
estradas virtuais
fossem algaravias
nosso desejo que não se concreta
eu tenho a fome entre os dedos
a sede entre os dentes
e a língua sobre a escrita
que ainda não fizemos
e o que brota desse amor latente
se o desejo é tua boca
no lençol dos dias?
Jura Secreta 55
essa estrada que vai dar
no mar dos teus mistérios
ou
essa estrada que vai dar
no mar dos teus silêncios
ou
apenas o caminho para o mar
na coluna vertebral
dos teus suplícios
ou
o poema puro ofício
de te oferecer amor, meu vício
e te querer estrada.
sim
Jura secreta 56
ainda que fosse viagem de metrô ou fantasia e o assunto que eu mais queria
fosse o que não dissesse e o mar apenas trouxesse gaivotas sobre os cabelos vento sol maresia e o líquido que não bebemos fosse conhac ou cerveja
mesmo assim a vida seja
entre o que os pelos lateja
o que a tua boca não fala
o que a tua língua não prova
e a prova das dezessete
te levasse mais cedo
inda assim não tenha medo a palavra entre meus dedos é o que ainda não disse miragem essa coisa nova agora revisitada naquela hora marcada de tudo o que não fizemos
Jura secreta 57
meta metáfora no poema meta
como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico prumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste
como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em prumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece
Jura secreta 58
a carne que me cobre é fraca
a língua que me fala é faca
o olho que me olha vaca
alfa me querendo beta
juro que não sou poeta
a ninfa que me ímã
quando arquiteta
o salto da abelha
quando mel em flor
e pulsa pulsa pulsa pulsa
na matéria negra cor
quando a pele que veste é nada
éter pluma seda em pelo
quando custa estar em Arcozelo
desatar a lã dos fios do novelo
em pleno sol de Amsterdã
desvendar Hollanda
nos mistérios da palavra
por entre o nó dos cotovelos?
a coisa que me habita é pólvora
dinamite em ponto de explosão
o país em que habito é nunca
me verás rendido a normas
ou leis que me impeçam a fala
a rua onde trafego é amplo
atalho pra o submundo
do escavado fosso
o poço
onde mergulho é fundo
vai da pele que me cobre a carne
ao nervo mais íntimo do osso
Jura secreta 60
qualquer palavra eu invento
na carnadura dos ossos
na escriDura do éter
na concretude do vento
na engrenagem da sílaba
vocabulário onde posso
dar nome próprio ao veneno
que tem o Agro Negócio
Jura Secreta 61
pele grafia
meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento
o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia
Juras secreta 62
tenho estado
entre o fio e a navalha
perigosamente – no limite
pulando a cerca da fronteira
entre o teu estado de sítio
e o meu estado de surto
só curto a palavra viva
odeio uma língua morta
poema que presta é linguagem
pratico a SagaraNAgem
na esquina da rua torta
Jura secreta 64
para Celso Borges e Lília Diniz
faz escuro mas eu canto
Thiago de Mello
Salgado Maranhão
pros meus afins está difícil
por isso esse novo canto
se o dia não amanhecer
o que será de Parintins
Bumba-Meu-Boi
o que será ?
o que será de Imperatriz
do povo/boi o que será
do povo/boi o que vai ser?
Jura secreta 65
esse teu olho que me olha
azul safira
ou mesmo verde
esmeralda fosse
pedra - pétala rara
carne da matéria doce
ou mesmo apenas fosse
esse teu olho que me molha
quando me entregas do mar
toda alga que me trouxe
Jura secreta 66
era para ser assim como se foice
no papel de seda era língua e sangue
unhas muitos dedos dentes
nos teus céus de boca
era para ser assim como se fosse
meus olhos no cinema
nos teus olhos presos
e o destino do poema teus lábios
indefesos
Jura secreta 67
aqui
os ponteiros
mordem os músculos
do relógio
com seus profanos dentes
onde não tem amanhã
nem ontem
só presente
Jura secreta 68
disseram-me certa vez
que essa escrita que voz falo
é um prato indigesto
osso duro de roer
carne ruim de comer
juro mesmo não presto
:
Federico Baudelaire
koringa boi/pintadinho
muito além do couro cru
muito além da carNAvalha
muito além da mesa posta
tenho mais de 25 mil cartas sem perguntas
e
mais de 25 mil perguntas sem respostas
minha língua é do barbalho
e
nas cartas do meu baralho
eu sei que você não aposta
Jura secreta 69
VeraCidade 2
há muito tempo
é a arma que engatilho
Jura Secreta 70
lady gumes african´s baby
meto meus dedos cínicos no teu corpo em fossa proclamando o que ainda possa vir a ser surpresa porque meu amor não tem essa de cumer na mesa é caçador e caça mastigando na floresta todo tesão que resta desta pátria indefesa
ponho meus dedos cínicos sobre tuas costas vou lambendo bostas destas botas neo burguesas porque meu amor não tem essa de vir a ser surpresa é língua suja e grossa visceral ilesa pra lamber tudo que possa vomitar na mesa e me livrar da míngua desta língua portuguesa
Jura secreta 71
o movimento dos barcos
dia desses ainda me leva
mar a dentro
o sal no centro de gravidade
que se move ainda em mim
quando enlouqueço
o endereço do sentido
ainda não tenho
e ando prenhe de saudade
do Pontal que um dia foi
Jura secreta 72
Clarice dorme em minhas mãos
a carne trêmula depois do beijo
na maçã que hoje comemos
agora sonha tudo aquilo
que Baudelaire lhe prometeu
quando amanhece
os olhos dela quanto dia
que o dia de ontem não comeu
Jura secreta 73
dois mil e dois
em Porto Alegre era dezembro
num quarto de hotel
entre lençóis de branco linho
teus pelos girassóis em desalinho
a pele rosada como pêssego
a língua eu bebia como vinho
o leite que suguei de teus mamilos
o gosto agora sangue em minha boca
e
o incêndio que apaguei em tuas coxas
agora queima em minha mãos
no pergaminho
Jura secreta 74
come. come meus pés descalços
e os vestígios de Anchieta
por onde estiver ainda
come. come todos os passos
e vomita os restos na Ampulheta
porque o tempo tarda
mas não finda
Jura secreta 75
é abissal
o cheiro de esperma e susto
não fosse o ópio
nem cem anos de solidão
provocaria tal efeito
o peito estraçalhado
por dentes enigmáticos
Monalisa sangra na Elegia do agora
cada Deusa tem seu Templo
cada mulher tem sua hora
Jura secreta 76
ela tinha um jeito gal – fatal vapor barato toda vez que me trepava as unhas com um gato cantar era seu dom
chegava a dominar a voz feito cigarra
cigana ébria vomitando doses do seu canto
estrela no hotel das prateleiras
companheira de ratos na pele de insetos
praticando a luz incerta no auge do apogeu
a morte
não é muito mais que um plug elétrico
um grito de guitarra – uma centelha
logo assim que ela começa
algo se espelha
na carne inicial de quem morreu
Jura secreta 77
jazz free som balaio
Para Moacy Cirne
gravada no CD fulinaíma sax blues poesia
assim quando desperta do massificado
ouvidos vais ficando dançarina cara
ao Ter-te Arte nobre minha musa Odara
misturas de comboios das tribos mais distantes de múltiplas metades juntas numa parte
Jura secreta 78
essa áfrica nos meus olhos
navegar é minha sina
em toda febre todo fogo
que incendeia o continente
nos teus olhos de menina
eu sou um poeta nunca fui a china
mas vermelho é o meu sangue
desde que nasci
Jura secreta 79
oswaldianamente
ainda não sei bandeira
nem levo o barco
ao rei da vela
:
minha paixão
ainda é mangueira
desfolhando na portela
Jura secreta 80
as orquídeas ainda são azuis
girassóis relâmpagos na chuva
na surpresa dentro a tempestade
dessa manhã que finda
pimenta tua boca em chamas
incendeia meus lençóis profana
essa linguagem como arco-íris
como fosse pulsação que arde
nas entranhas dessa luz de fogo
nos meus dentes mastigando a tarde
Jura secreta 81
rasguei as velas
que teci em tempestades
rompi as noites
em alto mar de maresias
pensei teu corpo
pra amenizar tanta saudade
e vi teus olhos em cada vela que tecia
Jura secreta 82
perguntei ao Herbert
como vão as coisas
pelas bandas das Minas
não as Gerais
mas as que moram no Cais
da lapa ou do porto
as que fazem direito ou torto
as que tem as costas
em linhas curvas
e atravessam o arco-íris
das formas que inda nem sei
as que tem um belo horizonte
pelas bandas de São João Del Rey
Jura secreta 83
mordi a carne da maçã
na língua o gosto era o batom
que ela usa nos mamilos
a carne da fruta é vermelha
branca é a minha Vênus de Milos
grafita pela pele pelos poros
como plumas
nas linhas dos lençóis de linho
transpira o amor em desalinho
rasgando toda blusa de lã
da minha musa de Vênus
quando transborda em nossa cama de manhã
Jura secreta 84
diante o mar o que pensar a não ser o infinito o grito das baleias o silêncio dos peixes a nossa fome disseminada em cada um deles os corais os abissais os ancestrais os minerais os barcos atracados no cais e o quanto somos finitos
diante o mar o que pensar a não ser como ela mexe comigo aqui agora beliscando meu umbigo em qualquer lugar que eu esteja com esse copo de cerveja - diante o mar o que pensar a não ser os pés na areia e quem sabe uma sereia me leve pra mergulhar
Jura secreta 85
enquanto você espera
Jesus voltar
- *com a boca escancarada
cheia de dentes
esperando a morte chegar
os políticos te enrabam
até o caroço
dos pés do cu ao pescoço
sem ninguém pra te salvar!
* Raul Seixas - em Ouro de Tolo
Jura secreta 86
os olhos dessa felina
me arranham como unhas
como faca de dois gumes
que todo poema tem
São Sebastião do Sacramento
profana hóstia no altar
sagrada carne de minas
que comi para pecar
Juras secreta 87
imprimo no poema multifaces
na coisa do significado oculto
do desejo onde o beijo não basta
a paixão arrasta a língua
para o poço mais profundo
cheirando as flores do mal
de um Charles Baudelaire
no mais escondido fosso
desse corpo que se quer
Jura secreta 88
em
São Sebastião do Sacramento
suas coxas em movimento
me lembram peixes sagrados
no mar que minas não tem
mãos por teus montes claros
provocam marés - atropelos
passeio de língua entre pelos
em outras partes também
lábios de mel abissal
peixe espada noutro mar - Prometeus
desejos despindo teus seios
teus dentes cravados nos meus
a lua por sobre a capela
a luz em tua alma - donzela
Afrodite - uma caça indefesa
presa - em minhas unhas de Zeus
Jura secreta 89
não sou um anjo certo
estou sempre anjo torto
mas se fizer de mim
anjo da guarda
te guardarei a sete chaves
no armário do meu corpo
Jura secreta 90
do portal desta estação
ouço a voz do teu silêncio
o amor com seus olhos castanhos
passou no trem pra Leningrado
e o nosso encontro marcado
ficou para depois da estação Porto Viejo
onde a droga do desejo
é um veneno pra nós dois
Jura secreta 91
cara velas ao vento toda barra em movimento e o morro do juramento corre em busca da farinha que Cabral já descobriu e um Rio violento na pedra do Redentor chora a morte da vizinha chora a barbárie e o terror
e o marco do monumento metralhadora e fuzil pra garantir o movimento só o prefeito é quem não viu que esta cidade para olímpica é uma ponte que caiu
Jura secreta 92
me encanta mais teus olhos
Jura secreta 93
beber da tua língua
líquido na maresia
suor no mar dessa linguagem
e tudo mais beberia
no teu corpo em desalinho
em luas de tempestades
em lençóis de calmaria
palavras em tua boca
levaram-me ao descaminho
amarraste-me em tua cama
com tuas garras de linho
depois que me embriagaste
com tuas garras de vinho
Jura secreta 94
nem todo poema curto nem todo endereço acerto a meta do poeta é o alvo o alvo do poeta é a meta a flecha estendida no arco o arco estendido na seta eu quero teus olhos de vidro não poema em linha reta
nem toda cidade prova nem todo poema povo a clara da gema nova pode estar dentro do ovo o biscoito fino pra massa o Dia D sem trapaça acende a fornalha na praça
a massa do biscoito fino
Jura secreta 95
como se fosse infinita estrada
provocando descaminhos
desafiando caminhadas
Clarice diante do espelho
no mar do precipício
transparece o corpo em algazarra
a farra do vestido ao vento
mastigando meus instintos
na carne da noite a dentro
Jura Secreta 96
só me queira assim caçado mestiço vadio latino leão feroz cão danado perturbando o teu destino
só me queira enfeitiçado veloz macio felino em pelo nu depravado em tua cama sol à pino
só me queira encapetado profanando aqueles hinos malandro moleque safado depravando os teus meninos
só me queria desalmado cão algoz e assassino duplamente descarado quando escrevo e não assino
Jura secreta 97
mesmo se fosses
andorinha gavião ou colibri
beija-flor singrando os ares
meu amor meu bem-te-vi
Jura Secreta 98
Dandara tão clara quanto rara jura secreta que desabrocha em flor de lótus flor de lácio flor de lírios flor de cactos flor/espinho depois do amor pedra trans/tornada flor no meio do caminho
Jura Secreta 99
dentro do quarto o poema tenso não entra nem sai o estômago ronca as tripas gritam de fome e o poema preso tenta dar um salto pular pelas janelas o impulso é fraco o país é pobre enquanto o povo dorme a rosa se esfacela e os restos de bandeja são vendidos por migalhas
Jura secreta 100
espora essa palavra amolada
dessas que cortam a carne
no primeiro toque
espora em meu sentido rock
não um mero truque
no pulsar da língua
que a tua pele lambe
quando saliva aflora
espora em meu cavalo branco
o simbolismo aceso
todo dia é dia de São Jorge
Jorge Luis Borges
num plural latino
escavar a terra em busca da palavra
quando nervo implora
espora temporal dos músculos
memorial dos ossos nesse tempo bruto
tudo quanto posso
Artur Gomes
A poesia de Artur flui feito pluma ao vento, “a lavra da palavra quero seja pele pluma onde Mayara bruma já me diz espero, saliva na palavra espuma onde tua lavra é uma elétrica pulsação de Eros”.
No entanto, a despeito da leva da linguagem que segue o ritmo interno da inspiração do poeta, camufla em partes, em outras escancara, o caráter ardente da poesia que chama por Eros.
Repleta de paixão e de fogo, as imagens de amantes, as analogias do sexo desprendem deste clamor contido no peito de Artur, mas que, pelo fazer das letras desenvolve-se na liberação dos desejos mais sensuais, “essa ostra no mar das tuas pernas”, ou mesmo quando o poeta compara a procura pela palavra com o escavar libidinoso que os amantes fazem um pelo corpo do outro,
“tudo o que quero conhecer a pele do teu nome / a segunda pele o sobrenome / no que posso no que quero”.
Embora, por ser poesia, as palavras sejam como “flor”, esta metáfora, esta alegoria bela e perfumada exala da queimada ardente da linguagem, feito mulher prenhe de libido, “a pele em flor a flor da pele / a palavra dândi em corpo nua / a língua em fogo a língua crua / a língua nova a língua lua”.
Esta poesia tão luxuriosa incendeia o solo urbano, tanto quanto a natureza, falando da monotonia urbana de São Paulo, que alucina a sobriedade do poeta com sua beleza cruel, cidade no qual o “matadouro” é a arte concreta.
Mas feito pluma ao vento a poesia de Artur enxerga o fogo da paixão, da convicção voando também para longe da violência e tribulação urbana, pairando sobre a mágica enamorada das praias, do vento, das sombras, da natureza, local onde residem os aspectos matrimoniais da união homem-mulher, “qualquer que seja a hora em que se beijam num pontal em comunhão total com a natureza”.
As juras do poeta ardente profanam o sagrado, quando em sua retórica e discurso extrapolam a rigidez das formas, mas, em ousadia apelam para as rezas e para o caráter inviolável das promessas com uma “violência antropofágica erótica”.
Tonho França – poeta e editor -
Juras secretas em alta voltagem
Por Krishnamurti Góes dos Anjos
Poeta maldito é termo utilizado para referir poetas que constroem uma obra “rebelde” mesmo em face do que é aceito pela sociedade, considerada como meio alienante e que aprisiona os indivíduos nas suas normas e regras. Rejeitam explicitamente regras e cânones. Rejeição que manifesta-se também, geralmente, com a recusa em pertencer a qualquer ideologia instituída.
A desobediência, enquanto conceito moral exemplificado no mito de Antígona é uma das características dos poetas malditos. Filiam-se a essa tradição nomes (com as variantes óbvias de estilo e época) como os de Gregório de Mattos, Augusto dos Anjos, Paulo Leminski, Álvares de Azevedo, Jorge Mautner, Waly Salomão dentre outros, sem falar no trio mais conhecido mundialmente da “parafernália” poética: Verlaine, Baudelaire e Rimbaud.
O ator, produtor, videomaker e agitador cultural que é Artur Gomes acaba de lançar “Juras secretas”, reunião de 100 poemas a maior parte deles sobejando a temática do amor visto na perspectiva de paixão avassaladora. Mas há também, aqui e ali a presença, sempre em perspectiva ousada e radical, de poemas que vão do doce e suave sentido do amor, ao cruel, do libidinoso, à poesia de cunho social sempre expressando indignação, desobediência e transgressão. Com efeito o homem é uma metralhadora giratória a espalhar e espelhar aquilo, que nos vai por dentro e que guardamos em “segredo” de estado. Com a palavra o poeta:
Jura de número 34
porque te amo / e amor não tem pele / nome ou sobrenome / não adianta chamar / que ele não vem / quando se quer / porque tem seus próprios códigos / e segredos/mas não tenha medo / pode sangrar pode doer / e ferir fundo / mas é a razão de estar no mundo / nem que seja por segundo / por um beijo mesmo breve / por que te amo / no sol no sal no mar na neve
Jura 63
não sei se escrevo tanto / não sei se escrevo tenso / um fio elétrico suspenso / com tanta coisa no Ar / não sei se olho em teu olho / para encontrar a entrada / da porta da tua casa / onde a palavra estiver / não sei se pinto um Van Gogh / ou escrevo um Baudelaire
Jura 69
há muito tempo / não morro mais aqui / minha cidade é desbotada / há muito perdeu o brilho / na minha voracidade o sol é claro / e a arte que preparo / é o tiro que disparo / é a arma que engatilho.
Jura 70
meto meus dedos cínicos / no teu corpo em fossa / proclamando o que ainda possa / vir a ser surpresa / porque meu amor não tem essa / de cumer na mesa / é caçador e caça mastigando na floresta / todo tesão que resta desta desta pátria indefesa / ponho meus dedos cínicos / sobre tuas costas / vou lambendo bostas / destas botas neo burguesas / porque meu amor não tem essa / de vir a ser surpresa / é língua suja e grossa / visceral ilesa / pra lamber tudo que possa / vomitar na mesa / e me livrar da míngua / desta língua portuguesa.
Com efeito, forçoso concordar com Tanussi Cardoso, em Posfácio ao livro, que a poesia de Artur Gomes é “uma poesia do livre desejo e do desejo livre. Nela, não há espaço para o silêncio: é berro, uivo, canto e dor. Pulsão. Textura de vida. Uma poesia que arde (em) seu rio de palavras”.
por Adriano Moura
“Só uma palavra me devora / Aquela que meu coração não diz”.
Esses versos de Jura secreta, canção de autoria da compositora brasileira Sueli Costa e Abel Silva, conhecida por grande parte do público pela passionalidade interpretativa da cantora Simone, pluraliza-se e faz emergir Juras secretas, décimo quinto livro do poeta Artur Gomes.
Não que haja intertextualidade explícita entre a canção e os poemas do livro, mas denota o intertexto como uma das principais marcas do poeta, recurso presente em seus livros anteriores.
Em SagaraNagens Fulinaímicas (2015), já se percebia um Artur Gomes um pouco distinto da ferocidade de crítica política predominante, por exemplo, em Suor &
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por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e minha língua fosse
só furor dos canibais
E é com furor canibalesco que se nota, na tessitura poética de muitos versos, o poeta que se dedica também à leitura da literatura e de outras artes. Antropofágico, herdeiro de Oswald Andrade e do Tropicalismo, a língua do poeta devora tudo que o coração não diz para permitir que a poesia o diga.
Hilda Hilst, Portinari, Glauber Rocha, são signos que denotam o repertório de um leitor-espectador de várias linguagens e que não esconde essas influências. Porém sua poesia não é enciclopédica. As alusões promovem efeitos sonoros e imagéticos que contribuem para o desenvolvimento de uma estilística pessoal e funcional.
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quantas marés endoidecemos
e aramaico permaneço doido e lírico
em tudo mais que me negasse
flor de lótus flor de cactos flor de lírios
ou mesmo sexo sendo flor ou faca fosse
Hilda Hilst quando então se me amasse
ardendo em nós salgado mar e Olga risse
olhando em nós flechas de fogo se existisse
por onde quer que eu te cantasse ou Amavisse
Artur Gomes é um dos poucos poetas que mantém viva a tradição da oralidade. Participa de vários encontros Brasil afora recitando seus versos como um trovador contemporâneo. Nota-se, na estrutura musical de sua poesia e nas imagens que cria, uma obra que se materializa por completo quando dita em voz alta. Mas mesmo no silêncio do quarto, da sala, da praia ou no barulho do carro, trem ou metrô; a poesia de Juras secretas oferece viagens estéticas aos que sabem que a poesia não está morta como andam pregando por aí.
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com os seus dentes de concreto
São Paulo é quem me devora
e selvagem devolvo a dentada
na carne da rua Aurora
Adriano Carlos Moura
Mestre em Cognição e Linguagem (Uenf).
Professor de Literatura do IFF –
Doutor em Letras, na Universidade Federal de Juiz de Fora-MG – poeta e dramaturgo
*
Artur Gomes é poeta, ator, videomaker e produtor cultural.
Tem diversos livros publicados, sendo os mais recentes SagaraNAgens Fulinaímicas (Edições Du Bolso – 2015), Juras Secretas (Editora Penalux, 2018) O Poeta Enquanto Coisa (Editora Penalux – 2020 ) e Pátria A(r)mada (Editora Desconcertos, 2019). Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio – 2020 – Pátria A(r)mada 2ª edição revista e ampliada – Desconcertos Editora (2022) O Homem com A Flor Na Boca - Editora Penallux (2023)
Tem inédito:
Vampiro Goytacá/Canibal Tupiniquim e Da Nascente A Foz : Um Rio De Palavras (livro de memória)
Dirigiu a Oficina de Artes Cênicas do Instituto Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes-RJ de 1975 a 2002.
Em 1983, criou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira, com 9 edições realizadas em diversas cidades do Estado Rio de Janeiro até o ano de 1992.
De 1986 a 1988 foi assessor, no Departamento Municipal de Cultura de Campos dos Goytacazes-RJ, onde trabalhou na criação da Casa de Cultura José Cândido de Carvalho – implantada no distrito de Goytacazes.
Em 1989 criou o Festival de Música de Primavera, cujas primeiras edições foram realizadas pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, na Arena do Parque Alberto Sampaio e coordenou o Encontro Nacional de Poesia Em Voz Alta.
Em 1993, idealizou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira Mário de Andrade — 100 Anos — realizada pelo SESC São Paulo.
Em 1995 criou o Projeto Retalhos Imortais do SerAfim – Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim, executado pelo SESC-SP em várias unidades na capital e pelo Estado.
De 1996 a 2016 foi um dos poeta convidados para dirigir Oficinas e realizar performances no Congress0 Brasileiro de Poesia, em Bento Gonçalves-RS
Em 1996 foi um dos 50 Poetas selecionados para o Projeto Poesia 96, realizado pelo Departamento de Literatura da Secretaria Municipal de Cultura do Estado de São Paulo - SP
Em 1999 criou o FestCampos de Poesia Falada, realizado até 2019 pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, em Campos dos Goytacazes-RJ onde foi Diretor de Projetos Especiais de 1999 a 2004.
Em 2002 lançou o CD Fulinaíma Sax Blues Poesia , com seus parceiros Dalton Freire, Luiz Ribeiro, Naiman e Reubes Pess.
De 2011 a 2014 dirigiu Oficina de Produção Cine.Vídeo no Sesc-Campos
Em 2012 foi um dos Artistas Brasileiros convidado para o Circuito Cultura Arte Entre Povos, realizados em cidades do Estado do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais
Em 2013 fez Performance Poética e dirigiu Oficina de Produção Cine.Vídeo na 7ª Feira do Livro de São Luiz do Maranhão.
De 2014 a 2016 Dirigiu Oficinas de Artes Cênicas no Sesc-Campos com a montagens dos espetáculos: Nos Tempos da Fotonovela, Uma Noite De Natal, Waterkis-Selecione Água e A Nossa Casa É Um Teatro.
Em 2017 Dirigiu Oficina de Teatro Multilinguagens no SINASEFE, seção Campos
Em 2018 e 2019 lecionou Poéticas, no Curso Livre de Teatro em Campos dos Goytacazes, com a realização do espetáculo poético teatral: LeminskiArte da Palavra Em Cena.
Em 2018 lançou o livro Juras Secretas, fez performance e dirigiu Oficina no Festival Transe Poéticas, realizado no Museu Nacional de Brasília-DF
Em 2021 fez curadoria para a Mostra Cine e Vídeo De Poesia Falada. realizada pelo SESC Piracicaba-SP.
Integrou a Comissão Julgadora do Festival Cine Urutu, realizado pela Prefeitura de Pindamonhangaba-SP
Com seu videopoema Goytacá Boy é um dos poetas que integram a Mostra Virtual de Videopoemas do Projeto Bossa Criativa, Arte de Toda Gente, realizado pela FUNRTE Rio.
Em 2022 realizou 7 edições do Projeto – Semana de 22 – 100 Anos Depois – Revirando A Tropicália na Casa Criativa Santa Paciência em Campos dos Goytacazes-RJ
Em 2022 lançou o livro Pátria A(r)mada no Sesc Piracicaba-SP e realizou performances realizadas no Largo dos Pescadores
Em 2023 realizou oito edições do Sarau MultiLinguagens, realizado no Museu Histórico de Campos e no Palácio da Cultura, realização da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima – Prefeitura de Campos dos Goytacazes-RJ
Em 2023 recebeu homenagem no Sarau Gente de Palavra, realizado na Livraria e Café Patuscada em São Paulo-SP, projeto coordenado pelos poetas/escritores: César Augusto de Carvalho e Rubens Jardim
Em março de 2024 realizou no Palácio da Cultura a primeira edição do Sarau Campos VeraCidade, realização da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima – Prefeitura de Campos dos Goytacazes-RJ
Atualmente é coordenador de cultura na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima em Campos dos Goytacazes-RJ
Fulinaíma MultiProjetos