RISCO
OU RABISCO
A vida em si é um risco
e pode ser dolorido
não tem mapa nem aviso
o mundo ataca de frente
e por mais que você enfrente
te pega desprevenido
A vida é um rabisco
e do muito que nos dói
por vezes não faz sentido
aquele beijo não dado
um verbo que jaz calado
o amor que não foi vivido
A CASA
QUE MORA EM MIM
A casa que mora em mim
Hoje é fotografia
Só lembrança que não morre
São portas ainda abertas
Janelas de vento e sol
Sussurram velhas
paredes
De tábuas de pinheiro
E contam que o vô
e a vó
Brincavam com os
seus netos
Nas noites frias
de inverno
A casa que mora em mim
Essa foto em preto e branco
Bem mais que dias e datas
Jardim florido na frente
Atrás a pequena horta
Foi lugar feito
de afetos
Já foi sótão e
porão
Mãe com roupas no
varal
E pai vindo da
labuta
A ceia já está na
mesa
A casa que mora em mim
Traz música aos ouvidos
Nas canções do velho rádio
No latido dos cachorros
E os violões nos saraus
É um tal de
recordar
De encontrar
dentro da gente
Crianças em
alvoroço
Choro de mais um
bebê
E houve até um
papagaio
A casa que mora em mim
De pau de pedra de vidro
Não tinha muro ou cercado
Mas tinha fogão à lenha
Aroma de pão assado
E o chimarrão doce-amargo
É nostalgia que
dói
N’algum canto
aqui dentro
Desse lugar de
morada
Que alguns
chamavam casa
E uns outros
diziam lar
A casa que mora em mim
Ela já não mais existe
Mas ainda é bonita
Quadro que dura no tempo
Gente que vem e se vai
(Uns para não
mais voltar)
O tempo levou a
casa
Mas permanece tão
viva
Nestas mãos
envelhecidas
Que seguram esta
foto
A casa que mora em mim..
Tchello d'Barros